sábado, março 15, 2008

Setenta velas!



Setenta anos. Um a um, exprimidos como gotas no somatório que o meu pai contabilizou no passado dia doze. Contou-os a eles e às coisas que amontoou. Capítulos de uma vida por compreender; sorrisos por referir; arrufos. E muita, muita nostalgia. Só não apagou setenta velas, com medo de cair no ridículo que as crianças experimentam. Foi assim.
Agora tudo corre mais devagar. Os anos são sinónimos de dias. Cada um é um pedaço de uma vida que parece começar a correr em contra relógio. É a lei natural das coisas, ser-lhe eu a vislumbrar as rugas, e não o inverso. Ser-lhe eu a ajudar nas coisas modernas. Ser-lhe eu a apaziguar os olhos cansados. Ser-lhe eu, só por si. É um facto que é assim que a vida se mostra, e aos factos ninguém lhes retira menção. Os filhos são rebentos que a velhice faz de bengala, mimos de gente crescida.
Somam-se mais que setenta anos, junta-se também uma vida de memórias que escapam entre os dedos, como se a sua leveza as tornasse imperceptíveis. Coisas só dele, que se retratam nas duas gerações de filhos a quem mostrou diferentes coisas, as mais banais ou nem tanto, a quem ensinou a viver de maneiras tão diferentes como cada dia de uma existência; e a quem viu crescer com uma infinidade de olhares, para agora poder ouvir:
Parabéns pai ou parabéns avô! Muda o título, mas os olhos são os mesmos. A alma é a mesma. O todo torna-se unidade.

Nenhum comentário: