terça-feira, agosto 18, 2009

Cinderelas de três palmos

Tenho uma prima com doze anos. Há uma coisa que lhe invejo, por já a ter perdido. Falo da ingenuidade. Daquelas acabadas de arrancar à rabujem de uma noite mal dormida, ou ao batton já esborratado por um beijo dado à pressa.
A igenuidade de pensar que se ama e desama com a mesma velocidade que se come cereais todas as manhãs. A ingenuidade das palavras soltas porque são bonitas e ficam bem ao ouvido. A ingenuidade do eu quero, posso e mando.
Com doze anos, sabe-se tão pouco sobre homens, que, mais uma vez ingenuamente, se pensa que o príncipe encantado pode, mesmo, chegar de cavalo branco para nos ir roubar uma estrela. Acaba por se acreditar nisso com afinco tal, que te torna mesmo um dogma. E, um coraçãozinho, que conhece muito pouco sobre estes dizeres, começa aos poucos a levantar os pés do chão.
Mas, no fim de contas, por entre uma lágrima esborratada ou um sapato de Cinderela perdido algures, nesta idade há uma incrível capacidade de reciclagem. E isso, a natureza esquece-se de ensinar aos mais crescidos.

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