terça-feira, setembro 26, 2006

Memorial


Há momentos que são feitos de pequenos pormenores, de pequenas peripécias. Momentos que são parte de nós. Habituamo-nos a uma rotina, a um conjunto de hábitos a que nem sequer damos muita importância, mas que preenchem as telas de uma vida. Fazem-se escolhas, optam-se por caminhos tantas vezes divergentes e cruelmente paralelos. Partimos todos à procura da realização de sonhos, à deriva da vontade de querer chegar mais além.
Quando se olha para trás e se faz uma introspecção daquele momento que nos marcou, que nos fez sorrir, aquele que parecia tão igual a tantos outros mas que foi tão diferente de tudo o resto, tudo parece fazer sentido. Foi diferente porque não se repetiu e, mesmo que se repetisse, não seria com a mesma intensidade.
Este ano aquilo vai ser muito diferente sem vós. As pessoas dos momentos que valem a pena, pessoas singulares e intimamente suas mas num olhar, numa conversa, num espaço, tão minhas.

domingo, setembro 24, 2006

Essencialmente assim


Sou e gosto de ser mulher. Seduz-me a tendência para olhar as pessoas nos olhos tentando, inúmeras vezes em vão, percorrer-lhes parte de uma alma ali projectada. Apreciar pormenores que mais ninguém se lembra, mas que estão muito para além de simples contemplar. Sentir o fruir indelével de um cruzamento de olhares reflectido no espelho de uma montra. Ter secretos pensamentos que me invadem a mente para, no minuto seguinte, correrem a uma velocidade estonteante que tenho dificuldade em acompanhar. Rabujar porque o dia está chuvoso e tenho de levar o chapéu. Sorrir inconscientemente por um motivo que me escapa. Apanhar um escaldão no ombros, mas ter a certeza que aquela tarde foi inesquecível. Ser invisível mas indispensavelmente presente.
Correr, sumir, resmungar, chorar, acarinhar… não são verbos exclusiavemnte femininos, é certo. Porém, dificilmente alguém os sente de maneira tão paradoxal como uma mulher.

terça-feira, setembro 12, 2006



Franz Ferdinand - Walk Away
I swapped my innocence for pride
Crushed the end within my stride
Said I'm strong now I know that I'm a leaver
I love the sound of you walking away
Mascara bleeds a blackened tear
And I am cold
Yes, I'm cold
But not as cold as you are
I love the sound of you walking away

Why don't you walk away?

Why don't you walk away?
No buildings will fall down
Why don't you walk away?
No quake will split the ground
Why don't you walk away?
The sun won't swallow the sky
Why don't you walk away?
Statues will not cry

Why don't you walk away?

I cannot turn to see those eyes
As apologies may rise
I must be strong and stay an unbeliever
And love the sound of you walking away
Mascara bleeds into my eye
I'm not cold
I am old
At least
As old as you are

As you walk away?

As you walk away
My headstone crumbles down
As you walk away
The Hollywood wind's a howl
As you walk away
The Kremlin's falling
As you walk away
Radio Four is STATIC

As you walk away

The stab of stiletto
On a silent night
Stalin Smiles
Hitler laughs
Churchill claps
Mao Tse Tung
on the back
***

quinta-feira, setembro 07, 2006

Regras genéticas


Alguns pontos conclusivos de uma ida ao oftalmologista:

. Sou astigmata e míope, ou seja, tenho astigmatismo e miopia. Correctamente tenho astigmatismo misto.
. Por causa disso mesmo, só posso usar lentes de contacto daquelas mais duras, que o médico fez questão de me advertir que são tudo menos confortáveis.
. Não vou poder ser operada até que a minha evolução clínica não estagne (se é que alguma vez vai estagnar)
. A minha graduação aumentou
. Tenho uma série de dioptrias
. Ah, pelo menos há uma coisa boa: NÃO sou estrábica!

Pronto, é este o balanço que se faz quando se tem uns genes daqueles do último modelo que são, certamente, uma maravilha.

Portanto quando quiserem abalar o ego e largar 60 euros já sabem, marquem uma consultazinha no Sr.doutor dos olhos.

P.S: O anonimato nem sempre é mau. Se a Disney soubesse deste caso, ainda era capaz de pensar investir uns trocos numa nova saga: A “patinho” feio à moderna (claro está), porque é preciso não só mudar mas também inovar.

quarta-feira, setembro 06, 2006


Beatriz, nome escolhido a dedo por seu pai, era uma mulher indubitavelmente esbelta, que apesar de já ter o título de trintona possuía uma fisionomia que fazia paralisar os inúmeros olhares que a assolavam na rua. Tinha uma estatura mediana, uns cabelos longos e aloirados que lhe completavam o rosto detentor de uns olhos azuis invulgares. Estes espelhavam o reflexo da luz, que parecia incomodá-la de quando em vez, como também reflectiam uma vivacidade marcante capaz de lhe inundar a alma. A silhueta, na qual lhe oscilavam as ancas, tinha um bailado encantador.
Agora, a uma semana de completar o seu trigésimo primeiro aniversário, encontrava-se recostada no cadeirão da sua ampla sala, enquanto desfolhava as páginas de um livro. Reencontrou-se nos seus dezassete anos. Naquela época da sua adolescência, era uma menina frágil que se afigurava indefesa. Os seus pais incutiram-lhe valores conservadores, que aceitara com evidente esforço.
Porém, não eram estas ideias que estavam a mil dentro de si mas aquilo que jamais poderia esquecer, o seu primeiro grande amor. Assaltavam-na pensamentos tão velozes e brumosos que se tivessem corpo e alma seriam certamente um larápio preponderante. Tinham passado treze anos, número indigesto, desde a última vez que fora forçada a separar-se de Pedro. Seu pai exigira-lhe que o fizesse argumentando que aquele rapaz lhe traria, mais tarde ou mais cedo, cicatrizes imperecíveis. Inicialmente esperneou, blasfemou e revoltou-se contra a posição de seu pai e na clandestinidade continuou por mais três meses os encontros com Pedro. Por entre a desculpa de uma ida até à casa de Maria, a sua melhor amiga, ou um passeio aparentemente singular no terreno adjacente à sua casa, via-o quase diariamente. Cada encontro entre ambos era um porto de abrigo que os fazia sentir soberbamente isolados do mundo. Aquilo que os unia não era o simples desejo que nutriam um pelo outro, era a autenticidade dos sonhos que compartilhavam, era a vontade que sentiam de partir à aventura do mundo e deles mesmos.
Na tarde de vinte e um de Agosto, tinham planeado como das outras vezes encontrarem-se. Porém, a inquietude de Beatriz levou a que seu pai acabasse por lhe descobrir os planos. Apesar de Pedro a ter esperado horas a fio no recate de uma árvore, Beatriz não apareceu nem nas horas, nem nos dias, nem nos anos seguintes. A partir daquele dia foi importada para Lisboa como se de um objecto se tratasse.
Um vento frio afrontou-lhe o rosto e rapidamente o seu pensamento regressou à cadeira onde estava encostada. Nunca mais o sentimento que sentiu por Pedro lhe tinha voltado a apertar o coração e, por isso, a sua companhia era apenas as paredes daquela espaçosa mas vazia casa.

terça-feira, setembro 05, 2006

Acabei de almoçar há pouco. Enquanto me deliciava com a refrescante salada, dei comigo a pensar que falta exactamente um mês para o meu aniversário. Não é que queira que esse dia chegue rapidamente, mas a sua chegada é um facto inalterável.
Ter-se dezoito anos e ser-se adolescente é encantador. Os motivos são inúmeros, são anos de uma vida que ficarão presentes na minha memória e ainda bem. Ainda bem porque, apesar de muitos sonhos serem completamente inatingíveis, valem pela conteúdo e não propriamente pela forma. Ainda bem porque crescer é maravilhosamente utópico. De um lado o querer e do outro o poder. Ainda bem porque deixar de ser criança e passar a ser mulher trouxe algo de novo à minha vida, algo que palavras jamais descreverão. Ainda bem porque passei a perceber o significado da vida e a encará-la de outra forma. Ainda bem porque ter acne não é obrigatoriamente mau.
Ainda bem, pura e simplesmente, ainda bem...