Ali em baixo, ao cabo do terreno que me viu crescer, existe um pequeno ribeiro que corre livre. Quando era criança, costumava ir ao seu encontro a passos largos. Corria, saltava e os arranhões pelo corpo eram inúmeros. Às vezes ia até lá sozinha, sem dizer nada a ninguém. Gostava de ouvir correr a água, sem qualquer vestígio humano. Não aprendia nada em particular, mas despia-me de mim para mim.
Quando voltava a aparecer, a minha mãe já tinha o discurso preparado. Colocava nas feições faciais um ar insultuoso e eu acabava por ouvir das boas, pelo facto de desaparecer sem justificação. Contudo, repetia o trajecto na clandestinidade vezes sem conta.
A caminho, era costume encontrar cogumelos e trazê-los comigo como prémio. Alguns não prestavam mas eu, à revelia, colocava-os no colo e depois corria até a casa. Curiosamente, depois não os comia. Mas pintava-me de ouro, só para os apanhar.
Lembro-me que havia um castanheiro enorme, com largos anos de existência, detentor de uma sombra majestosa. Mas, não era pela sombra que lá gostava de passar. Atraíam-me as castanhas espalhadas no chão do Outono que principiava. Confundiam-se por entre a erva que começava a fraquejar e a perder a cor.
Ontem voltei a fazer este trajecto com o meu pai. Fomos com o intuito de apanhar agriões. Calcei os botins, saltei para a água e apanhei uns quantos.
Tinha saudades de ir ali abaixo respirar outro ar, sujar-me de erva, molhar-me.
Lembro-me que havia um castanheiro enorme, com largos anos de existência, detentor de uma sombra majestosa. Mas, não era pela sombra que lá gostava de passar. Atraíam-me as castanhas espalhadas no chão do Outono que principiava. Confundiam-se por entre a erva que começava a fraquejar e a perder a cor.
Ontem voltei a fazer este trajecto com o meu pai. Fomos com o intuito de apanhar agriões. Calcei os botins, saltei para a água e apanhei uns quantos.
Tinha saudades de ir ali abaixo respirar outro ar, sujar-me de erva, molhar-me.
Voltei a respirar liberdade como se tivesse sete anos. Foi bom. Muito bom.