O meu Deus não é pagão. Não é um Deus consagrado ao que quer que seja. Ou talvez não. Talvez seja consagrado a mim, visto que é uma concepção minha. Afinal de onde veio o universo… o ar que respiro… a simples rosa do meu jardim. Será que de uma “mente” brilhante, ou de um mero processo evolutivo. Se assim foi, de onde é que tudo começou? Do nada? Então ao nada tornará, ou simplesmente continuará a corporizar parte do nada ou o nada por inteiro. Sim, múltiplas questões, múltiplos caminhos, hipóteses intermináveis. Qualquer que seja a origem daquilo que vivo, tenciono viver ou que penso viver, o que importa não são os infindáveis anos que existem atrás de mim e que continuarão inexoravelmente a existir quer eu respire, viva ou morra. Não importa se uma mão do Além me arquitectou vigorosamente dando-me um corpo, e quiçá algo sem matéria a que me habituaram a chamar de alma. Tudo isto não importa porque se importasse a minha existência seria vil e vã. Que me interessa se a Terra tem 4.600 M.a, se os fósseis são testemunhos de vida… Tudo isso teve o seu tempo, quando foi tempo de alguma coisa. Foi um ciclo, acabou. Tal como em tudo na vida, na morte ou na mera existência. Dá jeito acreditar numa vida para além da suposta última morada, com muitas flores, rezas, uma ou outra lágrima em cima da lápide. Mas, por outro lado, tudo isso é demasiado vazio. Se há ou não algo soberano, para lá do sítio em que os pássaros voam, possivelmente eles o saberão, pois eu nunca vi. È verdade que não são os meus olhos que dão existência ao que quer que seja, mas é com eles que a realidade se afigura perante mim. Reconforta-me o facto de amanhã ser outro dia, com sol ou chuva haverá uma nova aurora que não virá por eu estar cá à sua espera. Virá porque tem de vir. Então que diferença faz eu estar ou não estar? |