
Hoje que desde há 35 anos se celebra, por excelência, o dia da liberdade; há qualquer coisa que escapa à geração que nessa altura não existia. À minha geração.
O que nos escapa é um pouco de nós. Tomamos as coisas como dado adquirido, porque nunca conhecemos outro regime, outras gentes, outras manhãs. Para nós, a liberdade sempre esteve a par da nossas descobertas do dia a dia. Nem sequer pensamos nela, porque está mesmo aqui ao lado. Essa, que sempre foi a menina dos nossos olhos. Essa que se deita connosco depois de um dia a dizer os maiores disparates e acorda, na manhã seguinte, à procura do que lhe temos para dar. Porque isto de dar e receber, nunca é só de uma parte. Há sempre o caminho inverso, ao que damos e ao que recebemos. Mas, no final de contas, é ela que nos permite optar por um, por outro ou por um terceiro alternativo. É isso que nos foge entre os dedos. Isso, e a fibra para tentar, ficando só a cobardia para fugir. Fugir de nós, e ficarmos nas entranhas dos outros, de um falso outro eu. Ir por ali porque ele vai e não ficar cá porque ele não fica é feio e faz moça.
Hoje e sempre, 25 de Abril de 1974. Não o dia, mas o espríto que teima em não querer ficar.
Um comentário:
Estou estupefacto! Custa a acreditar que tem 21 anos! deixou-lhe o Belo em forma de poema:
Se eu tivesse as sedas bordadas do céu.
Com bainhas de luz de ouro e de prata.
As sedas azuis e sombrias e escuras.
Da noite e da luz e da meia-luz.
Deitava-as todas aos teus pés.
Mas eu sou pobre e só tenho os meus sonhos.
Deitei-os todos aos teus pés.
Pisa com cuidado,
É nos meus sonhos que estás a pisar.
W. B. Yeats (tradução de Miguel Esteves Cardoso)
Pedro
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