sábado, novembro 14, 2009

Vale a pena

Oitenta e oito anos e um discernimento mental invejável. Um bolo de chocolate. Um cafezinho, porque hojé é dia de festa. Duas velas, apagadas com o fôlego seguro de quem já tem pouco a perder. Um sorriso imenso por ter começado o meu dia a dar-lhe um beijinho. Uma lágrima à mistura, nos olhos azuis mais bonitos que conheço, e pensamentos que só a ela pertencem. Isto e um cabelo que outrora foi preto com contornos lisos. Dois comprimidos, porque o corpo já não é o que era e o coração vai dando sinais de continuar ali, bem devagarinho.
Uma bengala novinha, para ela estrear. Depois disto, disse-me: "Oh filha, quem usa isso são as velhinhas. Mas eu ainda estou aí para as curvas!". Que esteja, por muitos anos.
É isto que vale a pena, sempre. Agora vou dar-lhe banho e meter-lhe a água de colónia que ela gosta. Também merece.
Parabéns avó!

Aniversário

Este blog esteve de parabéns por estes dias. Foram quatro aninhos, feitos dia seis. Quatro anos de histórias minhas, pedaçinhos de muita coisa. No fundo, as minhas Bernardinisses. Neste espaço, respiro de maneira diferente. Sou eu quando o tenho que ser. Das outras vezes, vem o mundo misturado a mim. Assim. Só.
Para continuar, definitivamente.

sexta-feira, novembro 13, 2009

Turbilhões

"Quando fizeres jantares na Lua, lá estarei..."

Depois sorri. A baunilha e o chocolate nem sempre nascem para se misturar. Amanhã é outro dia.

sexta-feira, novembro 06, 2009

Coisas de mulher

Ora, é certo e sabido que aprecio muitíssimo as crónicas da MRP na Maxmen. A razão é simples. Sabe falar dos homens à luz dos olhos de uma mulher. Esmiuça-os, a eles e ao sexo, de forma vincada e com o toque certo de subtileza, característica típica de quem sabe escrever sobre estas coisinhas.
A crónica deste mês não é excepção. Faz uma analogia perfeita entre o primeiro homem e o primeiro carro. “O meu primeiro carro não andava nada. Mas eu adorava-o porque era meu e porque foi o primeiro. Também somos assim com os homens: o primeiro rapaz de quem gostamos, geralmente também vale pouco, e com o tempo vem a revelar-se um asno, um palerma ou um inútil, mas cristaliza o encanto de ter sido o primeiro.”
Subscreveria ponto por ponto. O primeiro homem surge sempre como um tiro no escuro: assim de repente, nunca se sabe muito bem o que dali vai sair. Normalmente, nunca sai grande coisa. Mas há ali algo que marca, nem que seja o facto de uns anos mais tarde nos assaltarem momentos que hoje parecem completamente descabidos. É tudo tão novo na altura, que até a mais pura imperfeição, parece o auge.
Depois, e quando começamos a ter três dedinhos de testa e mil e uma quedas no tapete, uma gaja vai abrindo os olhos. Se não o faz, deveria fazê-lo. Vai surgindo um e outro caso, já sem o encanto do primeiro mas com qualquer coisa a mais à mistura. Nem que seja o juízo e o medo de quebrar a cara, novamente.
Mas estas coisas, acabam sempre por ser como a primeira bebedeira a sério. A ressaca no outro dia é intragável e surgem umas nódoas negras, aqui e ali, que nunca se sabe muito bem de onde vieram. Juramos nunca mais querer beber. Porém, quando já não há vestígios de ressaca e aparece mais uma noite de copos, vem, obrigatoriamente, uma nova ressaca. Acabamos por gostar tanto que queremos repetir e fazer disso um ciclo.
É por tudo isto que não há amor como o primeiro. Assim como não existem duas relações iguais. O que há são pormenores coleccionados.