sábado, dezembro 30, 2006

Verdadeiro embuste

O Saddam, ex-presidente iraquiano, foi hoje para a forca. Depois de um processo duvidoso, no qual dois advogados de defesa foram mortos e o juiz substituído, chega-se como que brilhantemente à conclusão que teria de ser executado para mostrar a supremacia não dos bons, mas dos “mais melhores bons”: os americanos. Sob sigilo absoluto do dia da sua execução, o mundo foi hoje invadido pelas imagens do veredicto. Não terá sido, porventura, num dia qualquer mas num dia de entrega. Isto porque, naquele país hoje é tradição sacrificar-se um animal a deus. Sendo animal ou não, o enforcamento desta criatura coincidiu com o dia de hoje.
Que bonito! O Sr. Bush, todo bem apessoado, veio badalar aos ouvidos de quem o quis ouvir, que é grande e que se fez justiça. Uma justiça que não foi feita mas estruturada e posta em prática em terreno iraquiano.
A pena de morte é discutível e até pode ser uma medida eficaz quando feita condignamente. E, sobretudo, quando se vê uma melhoria depois desse acto. Eu pergunto-me que melhoria trará ao mundo esta execução? Quer dizer o Iraque é invadido pelos EUA, com a desculpa de este país ser detentor de armas químicas de ameaça mundial, (pura treta, porque afinal as armas químicas tinham outro nome: petróleo). Entra-se em guerra, quase que comparável à guerra fria, mata-se, esquarteja-se vidas humanas sem qualquer tipo de pudor, em ambas as ofensivas, e depois como prémio por tal acção, tenta-se mostrar ao planeta que os perdulários não estão vencidos, porque afinal têm a cabeça do símbolo do crime. Isto é no mínimo ironicamente sebento.
A invasão do Iraque foi um erro tremendo, levado ao ridículo pela matança que tem vindo a ser feita. Agora, para disfarçar o fracasso, enforca-se um homem porque era presidente do regime e cometeu crimes contra a humanidade. Que palhaçada! A conduta americana é que deveria ser erradicada, pois apodrece e mancha o mundo.
É que decidir o dia da morte de uma pessoa, afim de a fazer pagar na mesma moeda os crimes horrendos que esta cometeu, não é de todo dignificante. Pelo contrário, é de uma baixeza de carácter inconcebível.
Sinceramente, os embustes americanos deixam-me completamente atónica. Agora venham-me cá falar de justiça!

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Coisinha chata!

Se há coisa chata é a depilação. O dito objecto que está aqui em baixo todo lampeiro, poderia muito bem chamar-se tortura feminina. A sério, o nome assentava-lhe que nem uma luva. Agora depiladora?! Hum, isso é uma velhacaria. E a razão é muito simples: esta senhora quando está no ON é tudo menos meiguinha. Enfim... dizeres femininos imperiosos. Mas que raio, quem é que se lembrou de inventar este acto indigesto?!
Eu sei, eu sei... que uma mulher não depilada é como o Saddam sem o bigode: Epah, não faz sentido. O que faria sentido, isso sim, era que o meu cérebro fosse menos sensível ao toque desta coisinha e não me fizesse proferir a uma velocidade proporcional ao serviço deste altivo instrumento, aquelas palavrinhas que até são muito feias e tudo, pois essas... cujo teor léxico é desaconselhado às criançinhas e que a minha avó acredita que a neta não diz. Pronto, não custa pedir. Já que é Natal, que o seja para todos e em todos.
Ah, eu gostava era de ver os homens que se dizem muito viris e uma verdadeira fortaleza, a terem no corpinho, ainda que por escassos momentos, uma curta metragem desta. Sentiria uma satisfação plena ao ver-lhes a face que certamente alvitraria esse eu de macho. Até me voluntariava para fazer tão caridosa acção. Iam ver ficavam a pesar menos umas gramazitas, garanto. Sim porque os pêlos também são contabilizados na balança.
Mas pronto espécimes masculinos, como sois imensamente afortunados por não vos depilardes! Tenho dito!

quarta-feira, dezembro 27, 2006

A ler

Na véspera de Natal, a caminho de Lisboa, acabei de ler as últimas páginas d'O Perfume.
Foi-me oferecido, generosamente, por uma amiga, no meu aniversário, mas só nestas férias de Natal pude dedicar-me com afinco à sua leitura.
Obra brutalíssima e um puro vício, devo dizer. A prova disso é que mal a comecei a ler, devorei-lhe as páginas em poucos dias.
Prendeu-me desde a primeira linha o interesse, pois o facto da personagem principal, Jean-Baptiste Grennoille, ter nascido em Paris no meio da imundice a transbordar de cheiro fedorento a peixe, pareceu-me promissor. A narrativa desenvolve-se à volta do percurso de vida deste homemzinho que desperta um misto de horror e afecto, e que ficou órfão após ter nascido, pois a sua mãe foi condenada à morte depois de ter sido acusada de actos hereges. A história passa-se no século XVIII, havendo uma aprimorada reconstituição da sociedade francesa da época. Grenouille, chega à adolescência mantido vivo pela caridade alheia de alguns lares, inclusive por freiras. Ser insignificante, ao ponto de dificilmente se notar a sua presença por ser incapaz de omitir aroma algum, é desprovido de qualquer sentimento de benevolência, e responde à indiferença do mundo com um perfeito estado de ataraxia. É vil, asqueroso e desumano. Um perfeito animal raro. Além disso, tem uma característica humanamente admirável: fareja todo e qualquer odor a léguas de distância. Conhece todos os milhares de cheiros mundanos, desde ao puro lixo até à mais sublime fragrância humana. Todos menos o seu, porque não o tem. Torna-se curtidor de peles, afim de aprender a fazer o mais fantástico perfume que a humanidade alguma vez conheceu e, assim, fabricar o seu próprio cheiro. Para tal, fica operário de conceituados perfumistas daquela época. Quando se torna, finalmente, mestre na arte da perfumaria_ com direito a diploma_ sai de Paris em busca de outros odores. No seu percurso até outras cidades, mantém-se por sete anos numa caverna onde subsiste alimentando-se dos mais hediondos seres vivos animais e vegetais e lambendo, com paciência característica, gotas de água horas a fio. Sobrevive milagrosamente por ter uma constituição biológica deveras resistente. Depois, parte em estado fisicamente monstruoso em busca de uma cidade. Facto que o leva a ser elemento comprovativo de uma idiota teoria sobre a origem do mundo_ teoria do fluido letal.
O seu nariz peculiar fá-lo definir as pessoas pelo cheiro, antes mesmo de as ver. Assim, torna-se assassino de vinte e cinco lindíssimas jovens cada uma delas com um odor e beleza invejáveis, perfume esse que Grennoille precisou extorquir para fabricar o seu próprio cheiro. Laure, é a última jovem a ser assinada, pois transpira de requinte. É a obra-prima da humanidade quer em termos de fisionomia quer de odor. Tinha cabelos ruivos que cobriam o rosto sublime e lhe realçavam os olhos verdes invulgares. Este monstrozinho humano, jamais tinha farejado alguém assim. O plano macabro que o leva a matar a última jovem, acaba por ter um fim diferente dos outros, acabando por o conduzir até aos calabouços para depois ser morto em hasta pública. Porém, no dia do veredicto, este unge-se do perfume que fabricou cuidadosamente durante dois anos e acontece um milagre: as dez mil pessoas que o esperavam ver morrer com dez pancadas certeiras, que lhe destruiriam a cada toque uma cartilagem, vêm-se rendidas ao encanto do perfume. Dá-se uma orgia generalizada e aquelas figuras entregam-se aos prazeres carnais em plena praça aos olhos de todos, sob as mais inimagináveis posições e recantos. Pela primeira esta criatura pardacenta provocou amor nas pessoas. O pai de Laure, desejou adoptá-lo também ele rendido àquele ser, tal é a perfeição do perfume.
Contudo, Grennouille já tinha conseguido o que queria: a vassalagem dos humanos devido ao perfume. Não seu, mas sabiamente criado. Assim, parte de volta a Paris. Chegado lá, junta-se a um grupo de pessoas que estava na rua junto de uma fogueira, e volta a untar-se de perfume. Grennoille acaba por morrer como um verdadeiro ídolo nas mãos daquelas gentes, que o desmembrou e desossou roendo cada osso como se este homem se tratasse de uma iguaria nunca antes saboreada, sendo a primeira vez que tinham feito algo por amor.
É esta a história deste assassino. De indiferente passou a diferente pela genial mistura dos odores mais aprazíveis que o mundo pôde conhecer. Um best-seller de leitura obrigatória, escrito por Patrick Susking e editado em 1985. "O Perfume" já vendeu em todo o mundo cerca de doze milhões de cópias. E, recentemente, foi adaptado ao cinema. A não perder!

terça-feira, dezembro 26, 2006

O quase de António Variações


Esta música diz-me muito. Muito como letra. Muito como pessoa. Muito como mundo.
António Variações, de cariz incontornável.
Os Humanos estão de parabéns, pela fabulosa reconstituição que fizeram, das canções que António Variações não teve tempo de gravar e que são, por isso, o seu quase.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Post não natalício em dia de Natal


É Natal, e hoje o espírito quis que eu escrevesse assim...
**********
Lá fora, naquela noite, estava vento e a aparente acalmia tinha embrulhado a cidade. Joana confirmara-o com o olhar esguio que tinha lançado sobre janela da cozinha, enquanto esperava que a água estivesse pronta para envolver a saqueta do chá. De relance, olhou o relógio que resolvera colocar há poucos dias naquele espaço. Marcava 23:50.
Cá em baixo, em frente ao seu prédio, Afonso tinha acabado de parar o carro. Desde esse momento até decidir que iria tocar à campainha, tinham passado alguns minutos. A espanto, Joana abriu-lhe a porta. Enquanto se aprumava no elevador, tentava arquitectar palavras que lhe serviriam de manto no momento em que ela o questionasse sobre aquela visita deveras tardia. Por fim o elevador parou. A passos largos e com as mãos trémulas dirigiu-se a ela.
_ Afonso?!
_ De… Des… Respirou, momentaneamente, afim de restabelecer a voz e continuou. Desculpa Joana, tinha de vir! Já que não quiseste ir comigo ao cinema, tomei a liberdade de trazer este filme.
Olhou para os seus sapatos, numa tentativa de esconder a timidez e, por fim, continuou.
_Bom, o que não vale é eu ficar aqui à porta com este ar de adolescente envergonhado. Será que posso entrar?
Joana esboçou um sorriso meio incrédulo e disse:
_ Sim, entra.
Ela, com a sua simpatia característica, acomodou-o no sofá. Parecera que este o tinha esperado o dia todo.
_ Acabei de fazer chá, vou buscá-lo e bebemos os dois.
Sentado no sofá, Afonso estava tenso. A sua postura era análoga a um menino com receio que alguém descobrisse que estava apaixonado. Procurando a melhor posição para se acomodar, tinha em mente palavras que ansiavam por se libertar.
_ Pronto, cá está. É de limão, o meu preferido! Se não gostares faço-te outro.
_ Creio que não será preciso, eu gosto desse.
À medida que ela lhe colocava o chá na chávena, sentia-se com vontade de evaporar em conjunto com a exalação das moléculas daquele odor. Embora pretendesse questioná-lo sobre o facto de ele ali estar, não o conseguia fazer. Estava melindrada. Reparou que Afonso se sentia francamente embaraçado, pois entrelaçava as mãos sem qualquer tipo de intenção. Olhou-o nos olhos e estes mostravam alguma coisa que ela não conseguia definir a preceito. De seguida, baixou os olhos para poisar o bule em cima da mesa. Então, Afonso quebrou o silêncio que se tinha instalado e, exprimindo a medo palavras sentidas, proferi-as.
_ Joana, sei que me tens evitado nos últimos tempos. Eu próprio tenho sido cobarde por consentir que nos tivéssemos afastado. Lutei contra o facto de estar aqui e agora contigo, porque o meu orgulho constrange-me os actos e reprime-me. Porém, não me detive. E hoje, só hoje, eu venci-o. Confesso-te que o filme foi o único artifício capaz de me arrastar com ele até aqui. Na verdade, nem reparei qual era a capa do mesmo, porque não o quero ver nem tão pouco olhá-lo. O motivo de eu estar aqui, és somente tu. É a ti que te quero olhar, como de tantas outras vezes. Quero ver-te. Preciso ver-te. Sei que se não estivesse aqui, estaria em qualquer outro lugar. Mas o meu pensamento, esse, encarnaria em ti. Estaria nos momentos em que, mais do que um do outro, fomos nós. Tu à tua maneira e eu à minha. Fazes-me terrivelmente falta. Superior àquela que julguei ser possível suportar. Tanta que me sufocas por não estares e quando estás é no teu sufoco que me descubro.
Joana tentou tomar-lhe as palavras mas desde logo Afonso a deteve.
_Não, deixa-me continuar! Se paro, já não prossigo. Vai arrefecer-me a alma e com ela qualquer réstia de bravura que neste momento ainda está em mim.
Não me peças para ir embora. Há palavras em mim, que, ou digo agora ou são recalcadas para a mente calar.
Quero-te. Quero-te muito. Assim, em ti. Com cada defeito e cada virtude. Sem ti não me acostumo, porque sem ti perco o meu próprio costume. Perco-me e não me sei encontrar. Cada momento em que há de ti, faz-me renascer. Porém, não quero renascer, quero ser. Só isso. Se existir contigo, consumo-me sem me gastar. Por isso, das outras vezes, não há mais nada em mim para além de um eu que não quero nem sei encontrar.
Respirou, tencionando continuar, mas a voz de Joana sobrepôs-se.
_Também te quero, mas não te posso ter. Se te tivesse, possuir-te-ia. Quando se tem, o encanto quebra-se pelo facto de, mesmo inconscientemente, querermos possuir e possuir não é ter, mas roubar. Roubar-nos nos outros. A minha cama é fria quando não estás. A minha alma não quer existir por não encontrar alento. Estou magoada, pois sei que não te consigo magoar. Queria gritar, expulsar-te daqui, mas seria destruir-me. Se ao menos não te desejasse, tudo seria mais fácil.
Calaram-se. Foram silêncio. Naquela noite, a mesma do vento lá fora, encontraram-se mutuamente na lentidão da incerteza, na respiração ofuscante e na partilha dos seus corpos. Muito mais do que pertença carnal, foram eles. Dissiparam-se naquele momento que não era da imortalidade, era só e unicamente deles. E, porventura, da complementaridade daqueles dois mortais que pertenciam, impreterivelmente, um ao outro. Muito mais do que à Terra ou a um deus.

sábado, dezembro 23, 2006

Natal

Paz no mundo?
Igualdade de direitos?
Maior espírito de solidariedade?

Bla, bla, bla…


Pede-se às crianças para o desejarem, porque os adultos outrora também foram assim... ingénuos.
Que bonito que soam os protocolos. Pois, isso.
O melhor das pessoas não se vê, e ainda bem, num simples dia, mais de espírito comercial do que de outra coisa, nem nas prendas que se dão ou nos sorrisos forçados para desejar boas festas. Mas, há quem pense que sim. Eu penso que não.
Opiniões.
E, já agora, feliz Natal à medida da grandeza de alma de cada um, se possível...

terça-feira, dezembro 19, 2006

Perguntas difíceis p'ra caraças...

Hoje, enquanto enfeitava a árvore de Natal com ajuda de um menino de seis anos, ele olhou para mim e perguntou:
_ O que é a essência?
Fiquei literalmente a olhá-lo de olhos esbugalhados, como se tivéssemos a mesma idade. Depois de me rir com um sorriso incrédulo pelo facto de ter ouvido isto de um puto do primeiro ano, questionei-me a mim mesma como é que iria responder àquilo. Nessa altura, fui salva pela mãe dele que o veio buscar.
Antes de se ir embora, esboçou um ar traquina e hilariante. No meio de um aceno, disse-me:
_ Ainda me vais explicar...
De facto, eu até poderia esperar perguntas como: Por que é que se faz o presépio? O pai natal existe? E coisas do género. Mas agora, uma questão destas... isso, não esperava de todo.
Agora pergunto eu, como é que se explica o que é a essência a uma criança???
Hum... quando somos crianças é tudo tão mais fácil...
É mais fácil pedir colo....
É mais fácil dizer baboseiras...
E, sobretudo, é mais fácil fazer perguntas difíceis p'ra caraças!
Enfim... outros tempos.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Dente por dente... siso por siso


No último mês do ano, um certo senhor fez questão de me lembrar que também tinha direito a existir. Sem eu notar, juntou-se aos outros. E agora tenho um dente a mais ou mais um dente… Pois então, qualquer boquinha que se preze tem de ter um dente do siso. Dizem que é sinónimo de juízo. Não faço ideia, porque o juízo é só relativamente estranho…
Mas agora já me posso sentir realizada, afinal começo a ter uma percentagem elevada de juízo na minha boca… Hein, cá está o que tenho vindo a esperar desde que uma vez pedi à minha mãe para ela me trazer todos os xiklates_ como eu dizia na altura_ que houvesse no supermercado e ela me respondeu:
_ Oh filha, eu juízo nessa cabecinha não?

Pronto, agora que juízo na cabeça é démodé, tenho juizinho… na boca. Cool!

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Aquecimento anímico

Às vezes sonho. Outras vezes sou real. Num recanto mais ou menos aperfeiçoado, encontro-me em cada pincelada de ambição. Sonho por exigência, por vontade, por mim e comigo. Sonho porque sim. O desejo é mestre e eu, por vezes, sua aprendiza. No seu bailado revogo-me. Num endereço anunciado e pródigo aceno ao desejo de ser. Em certas ocasiões, abraço-o com o afinco próprio de quem se edifica sobre as movediças aragens de uma alma habituada a mim.
Entre alguns graus abaixo ou acima dos limites impostos, assimilo-me numa posição mediana. Mas a virtude não a encontro no meio. Vislumbro-a vertiginosamente nos excessos de uma ou de outra extremidade pois, onde quer que ela esteja, a vertigem antecede-a. Imito-lhe os passos, quando me apetece imitá-los. Faço caminhos divergentes quando os seus passos já não são visíveis ou, simplesmente, não os posso trilhar.
Aqui e ali paro, escuto e até olho. Prendo-me às amarras nítidas de tão polidas que estão, nas quais o sonho embarca sendo deriva. Bóia de forma ingénua e brandamente distraído, com excesso de peso ou demasiada leveza. Quando não chega a boiar, pelo menos está lá. Se a minha mão quase o atinge, ele foge. Se o ignoro faz-me afronta. Sorri-me quando o suplício o domina e recata-se quando a imensidão o desafia. De quando em vez, convida-me a embarcar. É costume ir só ele. Ver partir é bom quando se faz falta no porto. Ao optar por ficar, ele aluga-me o olhar e eu vejo-o diluir-se. Depois, viro-lhe as costas e venho para casa. Sei que voltará e será, invariavelmente, meu hóspede intríseco.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Hoje... dei sangue


Hoje fui ao hospital com mais três amigos. Felizmente imune a qualquer fragilidade de maior, fazer algo que já era minha intenção há algum tempo. Tornei-me dadora de sangue. Depois de cumprir os trâmites que havia a cumprir, e de responder a tudo e mais alguma coisa que a doutora que ia perguntando, lá dei o braço ao manifesto. Estive recostada na poltrona com uma agulha entranhada nas minhas veias, que me retirou 450 ml do dito líquido, por alguns minutos. Numa postura de verdadeira, passo à expressão, chairwoman. Foi um acto de longe doloroso, mas fiquei meio entontecida. A minha tensão arterial que anda sempre na sua, bem calminha, não achou muita piada. Causou-me, momentaneamente, um nó na garganta, mas nada que umas gotinhas de vasopressina, ou uma parente próxima, não tivessem resolvido. De volta a mim, lá mordisquei voraz qualquer coisinha. Com um penso em cada braço, estou de novo operacional enquanto o organismo se está a encarregar de repor os mililitros que doei.
Sinto-me bem fisicamente e, mais importante que isso, estou realizada. Sempre considerei os dadores de sangue pessoas deveras valorizáveis e hoje sinto-me virtuosa por me ter associado a eles. Na cedência de dez minutos da minha existência, fui útil pois sei que neste momento alguém pode estar a precisar, vitalmente, daquele saquinho.
Por agora, dissipo-me no ócio. Sob os acenos a uma sociedade com azia a dádivas.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Dia produtivo

Hoje foi um dia daqueles produtivos, senão vejamos:

Hora a que me deitei: 6:30

Hora a que me levantei: 16:30

Vida para além da caminha, hum... outro dia, quem sabe.

Noite de ingestão de mais de um litro de coca-cola a que meu estômago não se renegou. Pois, pudera…

Água, alguma… efectivamente.

Frase sensação: “Ah, eu conheço-te! Já te vi no hi5… o que quer dizer: produtividade fenotípica?” (efeitos do progresso em estado… puro! )

Portanto, viver para além das mantas… hoje foi mentira! Amanhã pode ser que tenha tempo para ver a luz do Sol… Fica a esperança, mas que soube bem dormir, lá isso…
Nem a minha mãe me chamou para almoçar, isto foi um verdadeiro milagre em dia santo! Efectivamente… foi!
E pronto... começaram assim as minhas, teóricas, férias de Natal...

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Coisas boas


Hoje quando cheguei a casa, havia um cheirinho a o arroz doce que me deliciou de imediato. Num acto quase mecânico, fui direitinha ao fogão. A minha mãe estava a caprichar e eu em profunda gula, comi … comi … comi e continuaria a comer se o estomâgo não se tivesse queixado de tão cheio e acalentado que ficou.
Hum… ainda estou empanturrada, mas são estes os pequenos sabores da vida. Os sabores das coisas boas e inconfundíveis. Dores de barriga destas não me importo de as ter, porque depois acabam por passar e até lá são eterizadas pelo consolo.

sábado, dezembro 02, 2006

E saem dois sequíssimos...




Izaaaaaaaaatu Ricardinho, ide buscá-las, ide...

_ Olhe sff eu já escolhi

_ E então, o que vai ser?

_ É o menu caseiro, com dois bifes sequíssimos e bem passados...

_ Com certeza, é para já! Saem em menos de 45 minutos!

_ E para beber, o que deseja?

_ Licor de leãozinho à moda de Alvalade!

Gosto tanto de você leãzinho, encostado às malhas és um... pitéuzinho!!! :P

P.s: Perdão pelo sarcasmo, mas há coisas fantásticas não há?

Ah e cuidado com a azia, porque eles andem aí aos pares de dois... ;)




sexta-feira, dezembro 01, 2006

Os humanos NÃO são super heróis!


Hoje é feriado por se comemorar o dia da restauração desde 1640, e o sol até vai emprestando de si. Contudo, não é sobre esses dizeres que tenho necessidade de ocupar as próximas linhas.
Enquanto o mundo já girava há horas numa correria de afazeres, eu permaneci a manhã toda aconchegada no sítio mais fantástico do meu quarto. Quase sem notar que tinha acabado de acordar, dei por mim a pensar que hoje é o dia mundial de luta contra a SIDA. Roubei o arcaboiço aos lençóis e disse para comigo: “Como é que eu encararia a vida se o meu corpo tivesse, progressivamente, desprotegido até ao fim da linha…?
De facto, esta síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA), que resulta da acção do vírus da imunodeficiência humana (VIH), é um flagelo à escala interplanetária. Vinte e cinco anos depois ter nascido para matar, dia após dia, vai infectando e afectando novas pessoas. Esta arma mortífera tem assombrado o mundo dos mortais. Chega de forma sigilosa, apodera-se da constituição básica do organismo dos humanos e impõe-se a todo o custo. Ao penetrar no organismo do hospedeiro, não conhece limites, pois começa de imediato a reproduzir-se dentro dos linfócitos T4 e replica-se destruindo as células defensoras do organismo e por conseguinte toda a linha imunológica das pessoas, deixando-as infectadas (seropositivas).Embora a SIDA, por si só não mate, faz matar. Doenças oportunistas advêm e conduzem-nos a um processo de “autodestruição”. Mais do que relembrar a sua definição científica é preciso aniquilá-la, ou pelo pelos, evitá-la. Atinge-nos por via sexual; por contacto sanguíneo; de mãe para filho durante a gravidez ou parto, bem como pela amamentação.
Revolta-me de forma desmedida e colérica, o facto de as pessoas não se protegerem dela. Julgar-se-ão super heróis e portanto feitos de uma matéria indestrutívell?! Devo chamar-lhe apenas irresponsabilidade desmesurada?! O mal não acontece só aos outros e é pena que, por vezes, seja necessário ele apoderar-se das pessoas para que elas consigam entender isso. Passar-se de imune a contaminado está a um pequeníssimo passo. Todos os dias são dias de contágio evitável!
Não é por acaso que Índia possui dos índices mais elevados de infectados. Infelizmente, aí, as condições de acesso a um simples preservativo são deploráveis. Porém, em Portugal, abunda o acesso aos mesmos e à própria informação, facto que não nos coloca na cauda da Europa e do mundo no que se refere ao número de infectados. Antes pelo contrário, as pessoas não se protegem convenientemente. É grave e imperdoável a falta de discernimento. A estupidez tem limites que, sob pena alguma, devem ser excedidos.
A SIDA tem de ser anulada e não uma fonte de anulação. Fazemos todos parte de uma massa humana a que chamamos de humanidade. Um por um, somos responsáveis não só por nós mas também por ela. A finalidade da evolução é progredir e não regredir. É curioso como um bolo gigante pode ser reduzido a migalha por um exíguo aglomerado de moléculas, que nem sequer células tem e que é de tamanho tão insignificante que não se vê. Talvez esse seja o grande problema. Julgamo-nos apenas um possível alvo daquilo que vemos e que nos impõe respeito pela grandeza que afigura. Este é um erro crasso que acaba por ter o preço mais elevado de todos: a vida.

quarta-feira, novembro 29, 2006

A quase MaYa agradece-te... ;)

"Sara, não deixes de ser quem és. Tu tens uma necessidade tremenda de libertar essa ira que há em ti, numa ode, num orgasmo psicológico que anseia por se libertar. Uma necessidade que constrói a tua personalidade, que te faz neologar e consultar constantemente o ID para atingires esse clímax que tantas vezes alcanças. Eu sinto que te apetece gritar bem alto para o mundo e dizer tudo o que sentes, esquecendo o que o superego te manda, aliás, apetece-te quebrar esse superego, rasgar a membrana que te aprisiona ao terreno e deixar-te ser o "Isso". Pois, eu só te posso dar um conselho: sê-lo!" By AbelhinhO mor =)



O meu vivificado ego suplantou-se ao ler isto, e ainda se suplanta. Mais do que um sincero obrigado, isto é um agradecimento público e merecido. São palavras lidas, relidas e voltadas a ler, porque não estão em mim sendo eu. Uma a uma, gotejam-me e ao fazê-lo sabem bem. Muito bem. Ainda que o paladar não as tenha aninhado. Não interessa, pois são coesas e sentidas a fundo, bem cá dentro, onde o seu amontoado encontra um lugar não extorquido. Há pessoas que, efectivamente, fazem falta à própria existência.

domingo, novembro 26, 2006

Viagem no tempo

A pedido de alguém, cá está uma dissertação sobre os meus dez anos. Aproveito para dizer que, enquanto a escrevi, fiz uma deliciosa viagem no tempo.
Creio que, invariavelmente, todos nós temos algo a dizer da época mais peculiar da vida. Aquela que dispensa apresentações por ser a base de tudo o resto, por meio de memórias aprazíveis ou não. Quando se é criança parte-se, ainda que inconscientemente, à aventura de um mundo onde nunca ninguém soube explicar quais os fundamentos que o sustentam. Na verdade, à medida que ser-se criança preenche um horizonte profundamente cobiçado mas já excedido, a vida vai fazendo questão de ser a pedagoga da pedagogia, ao ensinar-nos que o que importa não é conhecer-lhe as origens mas antes testar-lhe os limites. Talvez este seja o cerne infantil, não conhecemos limites mas queremos incorporá-los, vivendo-os inocentemente. Esta divagação poderia avolumar o meu intelecto horas a fio, mas quero conduzi-la à vivência dos meus dez anos.
Quando penso nesta etapa, aflui-me à mente um amontoado de sensações, que seria uma acto vil e vão, tentar expressá-las. Lembro-me que, a partir daquela época, a vida começava a ter gosto. Não sabia à inocência das histórias de embalar dos saudosos cinco anos, mas tinha um gosto integral que nunca mais protagonizei. Naquela idade, começei a tomar um rumo distinto daquele que tinha até aí. O baú de memórias, hoje sei, estava aos poucos a amontoar-se. As peripécias que passei dentro daquele portão, projectavam-se na minha vida fora de lá. O jardim-de-infância, os picotados e o bibe que depois deram lugar à escola primária, aos livros e à veste não trajada, passaram a estar encaixotados aos pedacinhos na minha mente. As brincadeiras inocentes e que no mundo dos crescidos são irrisórias; as saídas da escola no dia da espiga; os intervalos, sempre tão deliciosos, passados a correr nas traseiras; o primeiro beijo a medo mas único e irrepetível; o facto de ver um avião a cruzar os céus e pasmar-me com a sua imponência; fitar, a preceito, a professora enquanto ela me expunha as operações numéricas; descer as escadas a uma velocidade estonteante para ser a primeira a chegar aos baloiços; divagar pelo episódio do dartacão que passava na televisão enquanto eu mordiscava, a custo, pão e bebia leite; fazer birra e chorar de peito aberto porque era a única forma de tentar impor a minha vontade. Enfim, guardo uma imensa nostalgia de tudo isto. Até de quando caía porque o meu pai largava, antecipadamente, o assento da minha bicicleta ou porque o meu irmão descia os íngremes valados ao pé de casa e eu queria ir atrás, julgando-me capacitada da mesma façanha. O resultado eram muitos hematomas, pontos nos lábios, mas sobretudo muito contentamento. As dores fustigavam-me o corpo mas a alma, essa, estava acalentada.
Por todos estes motivos e por muitos mais, a minha infância é o porto de abrigo de mim mesma. O meu refúgio de quando o mundo dos crescidos não faz sentido. Os momentos marcantes da vida estão nas coisas lineares. Tenho saudades. Muitas. Contudo, gosto de as ter porque sei que todos aqueles sentimentos estão guardados dentro de mim e me ensinam, a cada segundo, que só fazem sentido como sendo uma saudosa e eterna contemplação. Por isso vivo e refugio-me neles quando tudo resto parece andar à deriva.
Às vezes estes momentos inundam-me numa espécie de exocitose psíquica e é então que preenchem o meu mais ínfimo complemento.

segunda-feira, novembro 20, 2006

O inesquecível dartacão




Era uma vez os três
os famosos moscãoteiros
do pequeno dartacão
tão bons companheiros
os melhores amigos são
os três moscãoteiros
quando em aventuras vão
são sempre os primeiros
quando eles vão combater
já não há rival algum
o seu lema é um por todos
e todos por um
o amor da julieta
é o dartacão
e ela é a predilecta
do seu coração
(dartacão, dartacão)
correndo grandes perigos
(dartacão, dartacão)
perseguem os bandidos
(dartacão, dartacão)
e os três moscãoteiros
longe vão chegar
(dartacão, dartacão)
és tu e os teus amigos
(dartacão, dartacão)
em jogos divertidos
(dartacão, dartacão)
vocês são moscãoteiros
a lutar!!
(bis)
Ahhhh, que saudades! Nunca me esqueci desta canção, nem o poderia fazer porque ela é um pedacinho de mim que sei de cor. De fio a pavio, cada sílaba guarda um cantinho da escola primária. Os amigos para toda a vida, os dias inconfundíveis, as tardes em que efectivamente eu era feliz porque não tinha a mínima noção disso nem tinha pressa de a ter. Como é bom ser-se criança... Para recordar eternamente!

sábado, novembro 18, 2006

Sucks!

Não gosto, porra! Não gosto e acabou. Mas por que raio tenho de gostar? Porque sim?! Tretas. Só tretas. Temos todos de gostar da mesma forma, do mesmo género, de uma maneira rotulada? Levem a perfídia para o quinto dos infernos.
Não gosto, assim, porque não tenho de gostar. Metam o entulho de aparências no c*. Deixei-me o juízo em paz. Querem gostar, gostem. Bom proveito. Não me impinjam é uma publicidade deslavada a todos os níveis.
Não gosto da propaganda que antecipa o Natal. As luzes nas ruas, as montras vulgarmente embelezadas, os brinquedos muito bonitos que são literalmente embutidos aos mais pequenos. Enfim, tudo isto soa a uma falsidade extrema, cujo o único objectivo é vender. Muito de preferência.
E o resto do ano, não há crianças a morrer à fome, que precisam de ajuda? Não há causas nobres às quais nos devemos dedicar? Não há um pedacinho de nós que exige partilha? Então por que é que estas causas só têm rosto, especialmente enaltecido, nesta época?! É Natal e fica bem ajudar. Tenham dó! O Natal é um dia, o resto do ano são todos os restantes, nos quais o mundo subsiste numa cruel desigualdade.
As causas nobres nascem de gestos que devem sempre existir, não apenas numa época restrita, mas na entrega que nos torna pessoas. O espírito natalício não deveria estar subjacente ao vinte e cinco de Dezembro. Deveria, isso sim, estar na garra a que nos damos e em que fazemos qualquer coisa, ainda que aparentemente, pequenina. Não somos pessoas para além do efémero dia de Natal?!

What I need



U2 & Mary J. Blige - One

sexta-feira, novembro 17, 2006

É preciso mudar


Hoje o meu intervalo de aulas foi tão espaçado que pensei apanhar mais uma seca, sem grande coisa para fazer. Enganei-me redondamente. Acabei por ir assistir a meio da manhã, por arrastamento confesso, a uma palestra sobre água e biodiversidade.
Comecei por ficar atordoada com o curriculum do professor que a estava a falar sobre verdades inconvenientes. Tinha setenta e poucos anos e há mais de cinquenta que dava aulas. Dizia ele que alguns dos seus alunos já estavam aposentados. Obviamente que com setenta anos, o normal é estar-se reformado. De facto, o senhor estava. Estava reformado da sua profissão, mas pude perceber que jamais estaria aposentado das suas convicções. Transpareceu uma imensa capacidade a diversos níveis. Achei fantástico o carisma que colocava nas palavras, a determinação com que as vivia. A certa altura disse: “O mundo anda literalmente aporcalhado”. Esta frase provocou na plateia uma gargalhada colectiva. Enquanto apresentava os slides com que se fizera acompanhar, ia mostrando que a nossa sociedade, os jovens de hoje muito pouco fazem para que os seus netos possam viver num mundo não inóspito. Verdade indiscutível pensei eu.
Poderia aqui citar as diversas frases brilhantes que lá ouvi, mas seria absolutamente despropositado. Porém, saí daquela sala com um espírito diferente daquele que levava. Esta onda economicista em que estamos mergulhados, é a nossa autodestruição. A arma mais letal de todas e aquela que incrivelmente é levada a termo por nós. Esquecemo-nos que precisamos do mais ínfimo ser vivo para que possamos viver e acabamos por destruí-lo sem pudor.
Pergunto-me para que mundo trarei eventuais futuros descendentes? Podridão é a única resposta que me ocorre. É urgente mudar, não na teoria mas na prática caso contrário num futuro a curto prazo, nos mais valiosos cofres não estarão notas, mas antes botijas de oxigénio e de água potável, (se ainda a houver).

terça-feira, novembro 14, 2006

Muitos parabéns avó =)

Hoje a minha avó faz oitenta e cinco anos. Mais um dia de vida e na vida de alguém que, aparentemente, o mundo não nota. Contudo, noto eu. Faço-o com todo o gosto. Desde que me conheço como gente que a minha avó faz parte da minha vida, da pessoa que eu sou. Embora não tenha tido oportunidade de estudar, tem uma imaginação fantástica que não reconheço em mais ninguém. Quando eu era criança não dispensava, sob pretexto algum, as suas histórias. Noite após noite repetia: “´Vó contas uma estória à mim, contas?”
Eu já sabia que ela me iria contar porque jamais se recusou a tal. Estava sempre lá quando eu precisava que uma mão me embalasse. Era fantástico. Tudo o que era dito não vinha de nenhum livro, mas de uma sabedoria que me deixava consoladamente espantada. Eram coisas ditas sem pensar, que afluíam naquele momento, numa extrema sensibilidade. Lembro-me de uma vez ter feito birra com o meu irmão pois queria ser a primeira a adormecer naquelas palavras. Ela, levou-nos a ambos para a cama e sussurrou -nos: “Hoje ouvem os dois ao mesmo tempo. A avó vai contar uma história que vocês vão gostar muito.”. De facto, embora não me lembre exactamente daquelas palavras, recordo-me de ter adormecido perfeitamente bem com a vida.
Os anos foram passando e hoje a menina que acreditava no pinóquio, no lobo mau, na cinderela (...) cresceu. Hoje já não sou criança. Perdi encanto e ingenuidade afagáveis. Sou alguém que que deve àquela senhora, companheira desde as noites chuvosas e frias até às mais quentes, um muito obrigada. Obrigada por me teres ajudado a crescer, a perceber que apesar de o pinóquio fazer parte do mundo encantado, as pessoas podem torná-lo verdadeiro, ou não haverá sempre outras crianças a precisarem de acreditar nele para depois partirem à aventura do mundo fantastático do real, em que os sonhos podem ser feitos de carne e osso.
Isto é uma homenagem, daquelas que só fazem sentido porque acabei de lhe dar os comprimidos e ela dorme, ocasionalmente, ali atrás de mim. Sonhando, quiçá, com as histórias que tantas vezes preencheram os meus sonhos e que hoje são a base do meu mundo.
Graças ao fabuloso mundo infantil, aprendi a acreditar que o pinóquio é indiscutivelmente real num espaço fisicamente acessível ao meu tacto: a minha mente.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Um ano de afiando a língua


Há um ano atrás, estava eu a chegar de uma normalíssima quarta-feira de aulas quando de repente pensei: Que tal um blog para rematar o dia?
De facto fi-lo, embarquei na blogoesfera e por cá tenho divagado. Acabei por não rematar apenas esse o dia. Rematei-me a mim. Fiz um lugar meu, um sítio onde me conhecem sem me ver. Coisa estranha. Pessoas que nunca vi e que, muitas delas, nunca verei nem saberei que existiram, passam por cá. Conhecem pedacinhos de mim que se não estivessem aqui estariam apenas dentro de mim, num espaço que nem o mais íntimo conhece. Curiosa estas minha exposição sem corpo. Existo na clandestinidade destas linhas. Mas, jamais sou clandestina de mim mesma. Cada texto é uma pequena parte do meu mundo, no qual me exijo por inteira. Não me aceito numa junção de fragmentos.
Hoje, voltei a ler cada post. Ri-me de alguns, lembrei-me de detalhes de outros. Dos restantes bateu saudade, daquela abundante e miudinha. Muita mesmo. É aqui que faço da minha mente um rabisco. Aos poucos fui arranjando um amante oficial que hoje me conhece como ninguém. Em um ano de paragens por cá, descobri que se há coisa que gosto é de escrever. Fazê-lo sem compromisso nem regras. Escrever só por escrever. Atirar cá para fora o que se amontoa cá dentro, às vezes um lixo pessoal outras vezes um lixo mundial. Este é o meu contentor. Aquele que quero continuar a encher e esvaziar. Enchê-lo com peripécias pessoais ou alheias e depois esvaziá-las nesta caixinha que me faz sentir bem. Existe tanto por dizer que quando penso nisto tudo sinto que quero continuar.
Obrigada a todos que me visitam, e obrigada a cada pedacinho desta casa. Ela conhece-me as teias e eu conheço-lhe os cantos onde, um a um, cada teia assenta.

terça-feira, novembro 07, 2006

Sedução não seduzível

A sedução não tem que ser material. Um mero jogo de cintura, de apreciação carnal, de cedência aos estímulos visuais e apetecíveis. A beleza, por si só, é tão frágil que se existisse isoladamente num à parte não perecível, já estaria extinta. Seria secante, deprimente e insuportável. A matéria da beleza é a pessoa, aquilo que não está numa simples soma de genes exprimidos por um fenótipo. O que os olhos captam é apenas momentâneo e incrivelmente vazio. Tão vazio que chega a gelar. Gela pelo calafrio que nada tem, pelo estrondo tão enganador a que todos acedemos sem hesitar, pela fragrância exótica de uma matéria sem odor. E, se algum odor exala, é uma mistura sem doses certas. Uma amálgama que ninguém define mas que todos farejam a léguas como se se tratasse de um perfume que não tem intimidade com os tecidos, mas que o nariz sabe exactamente onde localizar.
A sedução é mais do que um conjunto de características bem rotuladas a que cada um de nós responde com apreço. É aquilo que toca e volta a tocar. Toca de levezinho e vai acumulando detalhes tão pequeninos que nem sequer nos atrevemos a procurar, mas com os quais nos envolvemos. Não é vazia, volátil. Começa precisamente onde a beleza acaba. São domínios que não se interceptam mas chegam a aproximar-se. Seduzir não é ser belo porque se tem uma fisionomia desejável, é antes preencher as lacunas da fragilidade da beleza. A sedução é a encarnação de uma matéria não definível capaz de habitar no mundo dos fragmentos desprovidos de forma, mas com um conteúdo que a beleza jamais atingirá. Não é parecer-se mas ser-se.

domingo, novembro 05, 2006

Noite de sofá

A teimosia da chuva fez questão de preencher a noite. Acabei por me aninhar no sofá e não saí. Este programa alternativo não escolhe idades e eu ontem tive de o escolher a ele. Agarrei no telecomando e carreguei aleatoriamente num número. Parece que foi o dois. Num gesto certeiro, estava a começar o filme: “Cidade de deus”. Já tem um tempinho, é certo. Prendeu-me a atenção desde o primeiro minuto porque a cena inicial já me era familiar. Deliberadamente, quis voltá-lo a ver. Harmonizei-me sem grande intimidade com a manta e acabei por não mudar de canal.
Para quem nunca viu, é uma história estranhamente real. Trata-se de uma favela brasileira onde se aplica o velho lema: ou matas ou morres. Há rivalidade entre os dois líderes dos bairros: o Zé pequeno e o Cenoura. O primeiro é negro cresce aos trambolhões, escapando aqui e ali sem ele próprio conseguir perceber como chegou à adolescência. É frio, calculista e mata por prazer. O segundo é branco, mais generoso e faz tudo pelo dinheiro. Todos os fins justificam a sua obtenção. A acção desenvolve-se à volta das picardias entre um e outro.
A certa altura um miúdo com peito enaltecido diz perante uma provocação: “Eu já fumei, já cheirei, já matei e já roubei. Eu sou muito homem.” Frase fictícia de um filme inspirado em factos reais. É curioso o ápice com que se passa da ficção à realidade.

sábado, novembro 04, 2006

Hoje apetece-me esta

A chuva arrefece-me o espírito. Por isso, apetece-me postar esta música que me deixa sempre bem diposta...
Skye - Love Show
Sit down, give me your hand
I'm gonna tell you the future
I see you, living happily
With somebody who really suits ya
Someone like me
Stand still
Breath in
Are you listening
You don't know
Somebody's aching
Keeping it all in
Somebody won't let go
Of his heart but the truth is
It's painless
Letting your love show
Break down. Give me some time
I don't want the fear to confuse ya
Right now, it's so wrong
But maybe it's all in the future
Someone like you
Stand still. Breath in
Are you listening
You don't know
Somebody's aching. Keeping it all in
Somebody won't let go
Of his heart but the truth is
It's painless
Letting your love show
Maybe truth, maybe lies
Made me want you
Maybe dumb, maybe wise
I don't know
Somebody's aching
Keeping it all in
Somebody won't let go
Of his heart but the truth is
It's painless
Letting your love show
You don't know
Somebody's hurting
Holding it all in
Somebody can't let go
Of his heart but the truth is
It's painless
Letting your love show
Love show
Letting your love show

quarta-feira, novembro 01, 2006

Feriado?

Hoje é feriado, dia de todos os santinhos e entidades que arranhem na santidade. Isto dito assim até soa bem… pois soa. O que soou muito mal foi ter de ficar em casa porque amanhã tenho teste. A tarde estava apetecível, mas não pude aceitar o convite de ir por aí . Esteve a comitiva familiar em peso OUT e eu em casa, pois claro. O irmão foi vadiar com o pai, a mãe foi comer castanhas a casa da vizinha e a filha ficou em casa. Olha que bom! Devia de ser proibido fazer testes a seguir aos feriados ou, então, o conhecimento deveria ser um dado adquirido por osmose. O pior é que nem uma coisa nem outra.
Realmente é preciso ter uma resistência de ferro para ir buscar forças não sei onde para ficar a estudar ou, pelo menos, convencer-me mentalmente disso enquanto a vontade é sair cedo e só voltar à noite. Mas não pode ser. E a minha avó sempre disse que o que não pode ser tem muita força. Em tempo lectivo uma pessoa passa a ser pessoa só pelo termo em si, porque quanto ao resto não há vida própria, conversas até às tantas, saídas até quando anoite passa a ser aurora. O que há é um sistema de cativeiro. Enfim, é o que se arranja no reinado dos crescidos. É assim que eu ando até ao próximo stand-by.
P.s: Ao menos e, já na segunda parte, o Benfica está a dar dois sequinhos ao Celtic. Vá, pronto, não digam que não é um hospedeiro simpático. ;)

domingo, outubro 29, 2006

Muita leita... mas daquela bem azulinha!

Leita. Sim, muita leita! Depois de uma recuperação daquelas em que até os mais crentes levam as mãos à cabeça, veio-me aquele golo de meia leca trazer fel à boca. Até estou com uma aziazita à coisa. Quer dizer, vai uma pessoa ver a segunda parte com aquele espírito de: ou levamos mais meia dúzia ou ainda ganhamos isto, (bem, efectivamente, a probabilidade era a mesma, era sim senhora), para depois vir o primeiro golinho, que soube tão bem, o segundo que soube ainda melhor, que só faltava mesmo era o terceiro que caía que nem ginja. Pois, caía... e se caía. O pior é que a ginja foi bem azulinha. Enfim, o ano passado os "forasteiros", foram lá balançar as malhas duas vezes sem resposta. Este ano, quere-me parecer que até era de mau gosto repetir a proeza.
Na Luz haverá mais e, quiçá, melhor. Mas gostei. Gostei da segunda parte. O Benfica parece estar aí prás redes como o Yohanna Buba pró Beira Mar.Coisas do futebol.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Há dias assim

Vou eu toda lampeira ao meu hi5 aceitar uns comments pendentes e, eis senão quando, acedo à caixa de mensagens privadas e leio isto:
"What's up... I checked out your profile and you seem pretty cool. If you want to see more pics of me and my profile on another site check out my homepage at (...)"
E lá fui eu retribuir a visita. O único senão é que eu gosto de coisas viris. Enfim, fica para a próxima...

segunda-feira, outubro 23, 2006

Há julgamentos assim

Questão: Cai uma ponte, quem levar ao banco dos réus?
Conclusão: Os senhores engenheiros, pois claro.

Bem, a queda da ponte deve ter sido pura obra da lei da gravidade. Coisas da natureza, já que ninguém acaba por ser, oficialmente, culpado. Só é pena o autocarro ter levado as pessoas erradas. Caso contrário, a culpa certamente não teria morrido solteira.
Este país tresanda a podridão.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Serás normal?

Se te questionas sobre o teu grau de normalidade, pára e pensa na seguinte questão:
Chumbaste no exame nacional de matemática?
Sim? Então podes dormir descansado(a) sobre a almofadinha porque fazes parte do mais comum dos mortais.

quarta-feira, outubro 18, 2006

O correio da manhã tem umas piadas giras



"Irreverente no modo de ser e de estar, Ana Malhoa, 23 anos, diz-se uma mulher do espectáculo, que canta o amor com sons latinos. A adolescente que conquistou o público de palmo e meio no ‘Buereré’, tornou-se mulher, casou e é mãe. Com 15 álbuns editados, anda agora pelos EUA a promover o seu último disco: ‘Eu’. Tem saudades da Tv e diz que a Sic não a tratou bem. (...) Eu fazia o que a xuxa faz." In Correio da Manhã.
Ora depois de ler estas linhas fiquei com algumas dúvidas.
A primeira delas é que, embora desconhecendo a data deste artigo, deve ter sido escrito no tempo em que para se ser irreverente bastava apenas andar para aí a cantar o a e i o u. Os putos de hoje em dia já não cantam disso, preferem uma cristazinha à maneira. Mesmo à fixe, dizem eles. Sentem-se uns fixes com bué de irreverência.
Outra coisa que também não percebi é que o que é uma mulher do espectáculo. Ou melhor o que é um espectáculo? Será que é pensar que se sabe cantar e bater o recorde do "desafinanço"? Pois, secalhar é isso e eu é que tou completamente ultrapassada. Ah, mas quem canta "o amor com sons latinos" deve ser a próxima estrela a brilhar em Hollywood. Digo eu, digo eu.
Realmente eu lembro-me do "Buereré", lembro-me sim senhor. Mas não pelas cantorias da senhora, mas pelos desenhos animados, claro está. (Ahhhhh só se o termo irreverente vem do Dartacão. Pois, deve ser isso.) Toda a gente quer ser uma adolescente como a Ana Malhoa foi em tempos, para "despois" poder casar e ser mãe. Fogo, que sonho! Hein!
O mais fantástico deve ser ter-se quinze discos editados e ir promovê-los aos EUA. A "terrinha" que passou a albergar todo o tipo de exportações lusas. Maravilha. Às tantas a oitava. Mas pronto, a tal adolescente-mulher diz que tem saudades da Tv e é preciso respeitar as saudades de cada um. Claro, até quando se tem saudades do sítio que não nos tratou bem. A culpa deve ser da xuxa, porque não se pode xuxar qualquer coisinha, sob pena de se provocar uma revolta na tripa. É que esta figura teve tantas, mas tantas saudades da Tv que até foi à parada Sic catorze anos, porque o bom filho à casa torna. Entretanto, como qualquer dita mulher que se preze, até levou uma gibóiazinha no pescocinho, sem esquecer a roupa abrasadora.
Fiquei de facto estupefacta. A pausa!

Frase da semana

"Penso que o nosso grande problema, foi termos sofrido os golos". Fernando Santos.
Pois, caríssimo senhor, se o meu avô não tivesse morrido ainda hoje era vivo...
P.s: Até as derrotas do Benfica são à grande.

domingo, outubro 15, 2006

Modos

Não sei as pessoas olham para mim e pensam: “Bem, e o que é que vamos oferecer à Sara? Um livro pois claro!”. Outra coisa que não sei é se tenho um ar pseudo-intelectual ou, com um bocadinho de boa vontade, intelectual por inteiro. Apenas sei que me costumam oferecer livros. Alguns livros. Antes de os começar a ler, vou sempre à contracapa “ouvir” de sua justiça. Quando o veredicto me parece interessante, começo a ler as primeiras linhas e, por vezes, acabo por as ler até ao fim. Há histórias que devoro em dias consecutivos e outras que deixo hibernar por um tempo incerto.
Confesso que até gosto de ler. Mas não muito. Isto não acontece só com a leitura, pois não gosto de levar as coisas ao extremo nem de as repetir vezes sem conta. Gosto mais de escrever do que ler, é verdade. O motivo é simples. Enquanto leio, vou-me engasgando de uma série de coisas, mas ao escrever desengasgo-me de outras ao mesmo tempo que aprendo a não repetir o mesmo modo de engasgamento. As palavras soltam-se e não as entranho.

Estilo perdoadíssimo...


Mickael Carreira... não é que cante, mas que encanta... lá isso...
Apraz dizer que com uma fisionomia destas, até era pecado se não se perdoasse o pormenor da camisinha.
Que o Senhor te conserve!

sábado, outubro 14, 2006

Precariedades


Toda a gente gosta mais de umas coisas do que de outras. Não é menos verdade que há diferentes níveis de intensidade quando se gosta ou não de alguma coisa. Sem entrar em extremos, às vezes gostamos tanto de uma coisa que, se não a soubermos manter fora de uma certa monotonia, acabamos por quase odiá-la.
Cada um de nós tem milhões de defeitos quer sejam adquiridos no fabrico ou na sociedade, que é de longe perfeita. Mas o pior de tudo são as pessoas de personalidade fraca, tão lamechas que chega a enojar. Pessoas de opostos que estão quase, indiferenciavelmente, a rir ou a chorar. Fracas porque não enfrentam as coisas como elas são, tentam anestesiar-se com paninhos quentes, escondendo-se da realidade. Dá vontade de lhes pregar dois pares de estalos e fazê-las acordar para a vida. Problemas, dissabores, obstáculos, tretas… toda a gente acaba por ter de uma maneira ou de outra. Porém a maneira de agir é que é diferente. Entregar os pontos de mão beijada, a uma vida sem objectivos, metas, sonhos, parece-me impensável. A tristeza é um desperdício de tempo e de vida. Do tempo de vida.
Lava a alma, reconstrói-te, muda e volta a mudar. Muda de vida, de ritmo, de forma de existência. Mas não te desperdices com denguices ridículas porque deve haver sempre alguém pior do que nós. E mesmo que não haja, não faz mal. Interessa, isso sim, não sermos os piores. É preciso acreditar que se é capaz. Como se diz na publicidade: “Se eu não gostar de mim, quem gostará?”

segunda-feira, outubro 09, 2006

Aquele jantar...

Existem jantares e jantares. Noites e noites. Há noites em que os jantares são uma perdição completa. Quando os meus amigos fazem anos, não abdico de lá estar presente. Vou com o intuito de me divertir e dizer baboseiras. Faço-o de forma comedida, porque o álcool é inimigo da sanidade mental de qualquer pessoa e, sendo a festa do aniversariante, alguém tem se manter minimamente sóbrio.
Ora, quando o caso muda de figura e eu sou a aniversariante em noite de jantarada festiva, as coisas passam-se de um modo um pouco diferente. O copo enche e volta a encher, a cabeça começa a ficar tonta, as mãos não acertam com as batatas fritas do prato, o sopro é insuficiente para apagar as velas. Enfim, ao fim de um bocado o êxtase apodera-se de mim. Não sei se isto é uma forma de libertação do próprio inconsciente, daquilo que nunca mas nunca mesmo, ousei sequer pensar quanto mais dizer. As acções sem nexo começam a multiplicar-se e aí sou uma pessoa incapaz de me reconhecer.
No dia seguinte, a sensação é um pouco estranha. E a sua estranheza está precisamente no facto de voltar a ter consciência daquilo que fiz.
Esta minha noite foi diferente. Muito diferente. Diferente por ter sido inédita.
P.s: Obrigada pela paciência de Jó.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Aniversário


Ufa, o dia de hoje foi uma azáfama e ainda bem! Mas ainda cheguei a tempo de vir aqui escrever, afinal hoje estou de parabéns, faço aninhos! Dezoito já lá vão, que venham muitos mais com coisas boas.

Beijinhos para todos. =)

segunda-feira, outubro 02, 2006

Reminiscências

Abri a porta do frigorífico procurando algo consistente que desse resposta ao apelo do meu estômago. Acabei por pegar num pacote de leite com chocolate. Agora que estou mais reconfortada, a minha mente traz-me à baila recordações deste Verão. Não sei por que estou a pensar nisto. Mas a verdade é que estou.
O Verão é, efectivamente, a época por excelência de mais emoções. Não em quantidade mas em intensidade. Há coisas típicas que não se repetem em mais nenhuma estação do ano. Vivi o Verão dos meus dezoito anos. Não é que tenha sido muito diferente dos outros, mas houve algo que mudou. Algo que não sei precisar, apenas sentir. Noites aparentemente tão normais de copos com os amigos, rostos comuns, coisas frágeis e menos frágeis; tudo isto fez parte do meu Verão.
Existem alturas em que pensamos com a cabeça, somos fortes, muito fortes, mais ainda do que julgamos ser. Outras há que o coração é arrebatador, prende-nos a alguma coisa, não necessariamente a uma pessoa. Ficamos presos, não sei muito bem a quê, a quem, nem porquê. Depois tudo passa, vai num sopro, viaja para longe. Julgamos ter encerrado isso num caixote. Porém, talvez não esteja assim tão bem encaixotado ao ponto de ser invadido pelo pó das nossas lembranças. Reminiscências que ficam, pessoas que vão e que voltam. Talvez vão para nunca mais voltar. Não importa o percurso que tenham, o que importa é que na sua rota pararam por perto. Agora o mundo continua a girar e o cérebro encarregar-se-á de completar as coisas que surgem ás metades.

terça-feira, setembro 26, 2006

Memorial


Há momentos que são feitos de pequenos pormenores, de pequenas peripécias. Momentos que são parte de nós. Habituamo-nos a uma rotina, a um conjunto de hábitos a que nem sequer damos muita importância, mas que preenchem as telas de uma vida. Fazem-se escolhas, optam-se por caminhos tantas vezes divergentes e cruelmente paralelos. Partimos todos à procura da realização de sonhos, à deriva da vontade de querer chegar mais além.
Quando se olha para trás e se faz uma introspecção daquele momento que nos marcou, que nos fez sorrir, aquele que parecia tão igual a tantos outros mas que foi tão diferente de tudo o resto, tudo parece fazer sentido. Foi diferente porque não se repetiu e, mesmo que se repetisse, não seria com a mesma intensidade.
Este ano aquilo vai ser muito diferente sem vós. As pessoas dos momentos que valem a pena, pessoas singulares e intimamente suas mas num olhar, numa conversa, num espaço, tão minhas.

domingo, setembro 24, 2006

Essencialmente assim


Sou e gosto de ser mulher. Seduz-me a tendência para olhar as pessoas nos olhos tentando, inúmeras vezes em vão, percorrer-lhes parte de uma alma ali projectada. Apreciar pormenores que mais ninguém se lembra, mas que estão muito para além de simples contemplar. Sentir o fruir indelével de um cruzamento de olhares reflectido no espelho de uma montra. Ter secretos pensamentos que me invadem a mente para, no minuto seguinte, correrem a uma velocidade estonteante que tenho dificuldade em acompanhar. Rabujar porque o dia está chuvoso e tenho de levar o chapéu. Sorrir inconscientemente por um motivo que me escapa. Apanhar um escaldão no ombros, mas ter a certeza que aquela tarde foi inesquecível. Ser invisível mas indispensavelmente presente.
Correr, sumir, resmungar, chorar, acarinhar… não são verbos exclusiavemnte femininos, é certo. Porém, dificilmente alguém os sente de maneira tão paradoxal como uma mulher.

terça-feira, setembro 12, 2006



Franz Ferdinand - Walk Away
I swapped my innocence for pride
Crushed the end within my stride
Said I'm strong now I know that I'm a leaver
I love the sound of you walking away
Mascara bleeds a blackened tear
And I am cold
Yes, I'm cold
But not as cold as you are
I love the sound of you walking away

Why don't you walk away?

Why don't you walk away?
No buildings will fall down
Why don't you walk away?
No quake will split the ground
Why don't you walk away?
The sun won't swallow the sky
Why don't you walk away?
Statues will not cry

Why don't you walk away?

I cannot turn to see those eyes
As apologies may rise
I must be strong and stay an unbeliever
And love the sound of you walking away
Mascara bleeds into my eye
I'm not cold
I am old
At least
As old as you are

As you walk away?

As you walk away
My headstone crumbles down
As you walk away
The Hollywood wind's a howl
As you walk away
The Kremlin's falling
As you walk away
Radio Four is STATIC

As you walk away

The stab of stiletto
On a silent night
Stalin Smiles
Hitler laughs
Churchill claps
Mao Tse Tung
on the back
***

quinta-feira, setembro 07, 2006

Regras genéticas


Alguns pontos conclusivos de uma ida ao oftalmologista:

. Sou astigmata e míope, ou seja, tenho astigmatismo e miopia. Correctamente tenho astigmatismo misto.
. Por causa disso mesmo, só posso usar lentes de contacto daquelas mais duras, que o médico fez questão de me advertir que são tudo menos confortáveis.
. Não vou poder ser operada até que a minha evolução clínica não estagne (se é que alguma vez vai estagnar)
. A minha graduação aumentou
. Tenho uma série de dioptrias
. Ah, pelo menos há uma coisa boa: NÃO sou estrábica!

Pronto, é este o balanço que se faz quando se tem uns genes daqueles do último modelo que são, certamente, uma maravilha.

Portanto quando quiserem abalar o ego e largar 60 euros já sabem, marquem uma consultazinha no Sr.doutor dos olhos.

P.S: O anonimato nem sempre é mau. Se a Disney soubesse deste caso, ainda era capaz de pensar investir uns trocos numa nova saga: A “patinho” feio à moderna (claro está), porque é preciso não só mudar mas também inovar.

quarta-feira, setembro 06, 2006


Beatriz, nome escolhido a dedo por seu pai, era uma mulher indubitavelmente esbelta, que apesar de já ter o título de trintona possuía uma fisionomia que fazia paralisar os inúmeros olhares que a assolavam na rua. Tinha uma estatura mediana, uns cabelos longos e aloirados que lhe completavam o rosto detentor de uns olhos azuis invulgares. Estes espelhavam o reflexo da luz, que parecia incomodá-la de quando em vez, como também reflectiam uma vivacidade marcante capaz de lhe inundar a alma. A silhueta, na qual lhe oscilavam as ancas, tinha um bailado encantador.
Agora, a uma semana de completar o seu trigésimo primeiro aniversário, encontrava-se recostada no cadeirão da sua ampla sala, enquanto desfolhava as páginas de um livro. Reencontrou-se nos seus dezassete anos. Naquela época da sua adolescência, era uma menina frágil que se afigurava indefesa. Os seus pais incutiram-lhe valores conservadores, que aceitara com evidente esforço.
Porém, não eram estas ideias que estavam a mil dentro de si mas aquilo que jamais poderia esquecer, o seu primeiro grande amor. Assaltavam-na pensamentos tão velozes e brumosos que se tivessem corpo e alma seriam certamente um larápio preponderante. Tinham passado treze anos, número indigesto, desde a última vez que fora forçada a separar-se de Pedro. Seu pai exigira-lhe que o fizesse argumentando que aquele rapaz lhe traria, mais tarde ou mais cedo, cicatrizes imperecíveis. Inicialmente esperneou, blasfemou e revoltou-se contra a posição de seu pai e na clandestinidade continuou por mais três meses os encontros com Pedro. Por entre a desculpa de uma ida até à casa de Maria, a sua melhor amiga, ou um passeio aparentemente singular no terreno adjacente à sua casa, via-o quase diariamente. Cada encontro entre ambos era um porto de abrigo que os fazia sentir soberbamente isolados do mundo. Aquilo que os unia não era o simples desejo que nutriam um pelo outro, era a autenticidade dos sonhos que compartilhavam, era a vontade que sentiam de partir à aventura do mundo e deles mesmos.
Na tarde de vinte e um de Agosto, tinham planeado como das outras vezes encontrarem-se. Porém, a inquietude de Beatriz levou a que seu pai acabasse por lhe descobrir os planos. Apesar de Pedro a ter esperado horas a fio no recate de uma árvore, Beatriz não apareceu nem nas horas, nem nos dias, nem nos anos seguintes. A partir daquele dia foi importada para Lisboa como se de um objecto se tratasse.
Um vento frio afrontou-lhe o rosto e rapidamente o seu pensamento regressou à cadeira onde estava encostada. Nunca mais o sentimento que sentiu por Pedro lhe tinha voltado a apertar o coração e, por isso, a sua companhia era apenas as paredes daquela espaçosa mas vazia casa.

terça-feira, setembro 05, 2006

Acabei de almoçar há pouco. Enquanto me deliciava com a refrescante salada, dei comigo a pensar que falta exactamente um mês para o meu aniversário. Não é que queira que esse dia chegue rapidamente, mas a sua chegada é um facto inalterável.
Ter-se dezoito anos e ser-se adolescente é encantador. Os motivos são inúmeros, são anos de uma vida que ficarão presentes na minha memória e ainda bem. Ainda bem porque, apesar de muitos sonhos serem completamente inatingíveis, valem pela conteúdo e não propriamente pela forma. Ainda bem porque crescer é maravilhosamente utópico. De um lado o querer e do outro o poder. Ainda bem porque deixar de ser criança e passar a ser mulher trouxe algo de novo à minha vida, algo que palavras jamais descreverão. Ainda bem porque passei a perceber o significado da vida e a encará-la de outra forma. Ainda bem porque ter acne não é obrigatoriamente mau.
Ainda bem, pura e simplesmente, ainda bem...

domingo, agosto 27, 2006

Elas entendem-me...


Se há coisa num homem que uma mulher, mais cedo ou mais tarde, acaba por abominar é a dita testosterona. Definitivamente o factor “Y” masculino que nos põe os cabelos em pé.
É inegável que um homem com as medidas certas e musculado (q.b) dificilmente passa despercebido aos olhos de uma mulher. Porém, por detrás daquele aspecto francamente agradável, está uma boa dose de testosterona. Eis o grande senão. A testosterona, hormona masculina por excelência, ao mesmo tempo que nos leva ao rubro, deixa-nos redondamente com fúria em alguns momentos em que a diferença entre um homem e um animal, é claramente escassa.
Portanto, se alguém se lembrar de fazer um abaixo assinado contra a dita hormona viril, eu assino por baixo... ;)

segunda-feira, agosto 21, 2006

Reboliço de palavras


Há uns tempos, disseram-me: “As decepções não estão nos outros, mas em nós mesmos”. Na altura ri-me inconscientemente, sem saber o que dizer, mas dei-lhe razão. Agora, pensando sobre o assunto e já conscientemente, volto a dar razão ao autor.
Esta frase provocou em mim um conteúdo manifesto e outro latente, numa espécie de simbiose, como nos sonhos. Não sei se lhe posso chamar simbiose porque por vezes ou, quase sempre, há um lado que sai lesado. Ainda assim, é uma simbiose pouco nítida, que nem sempre se percepciona mas que está silenciosamente presente. Enquanto conteúdo manifesto, faz-me pensar que se a decepção é amarga, a própria pessoa é a essência da amargura por a ter permitido. Por outro lado, enquanto conteúdo latente, projecta-me uma realidade de outrem, ou a falta de conhecimento da minha. Isto parece antagónico? Pois, é bem possível.
Assim sendo, a decepção não é culpa de qualquer um, mas de “um” muito peculiar: o meu próprio “um”. Exigimos de mais? Iludimo-nos de mais?

sábado, agosto 19, 2006

De novo à carga...

Efectivamente, tenho tido alguma dificuldade em actualizar o blog. Não é que o tenha posto de parte, ou que me tenha esquecido dele. Afinal de contas, escrever desanuvia. A verdade é que os problemas de acesso à Internet têm sido diversos. Enfim, agora vou escrever um bocadinho para me redimir e para dar uso ao meu cérebro.
Estamos em Agosto, tempo de peripécias típicas da época. Calor… praia… diversão... Isto é como quem diz FÉRIAS!!! Passei o ano a desejá-las, porque duvido que alguém consiga passar indiferente a uns belos mergulhinhos na praia, àqueles passeios pela areia, às conversas de lenga-lenga que sabem tão bem e aos pequenos prazeres da vida. Com as férias, e à medida que vamos crescendo, acabamos sempre por tirar umas horinhas ao sono para darmos lugar a pensamentos da mais diversa ordem, que todos os adolescentes acabam por ter. Qualquer que seja a natureza desses pensamentos, qualquer que seja o local e tempo por onde enverguem, qualquer que seja a sua causa mor, acabamos sempre por nos prender com trivialidades.
Passar férias com os amigos, longe dos pais, tem um chiste indescritível. Quer seja pela liberdade promissora, pela pausa dos cuidados maternais, pela comidinha da mamã da qual se acaba por ter umas saudades tremendas, ou pelo simples facto de quando nos levantamos não haver recomendações de qualquer ordem. Mas, o melhor disto tudo, é mesmo o facto de se poder crescer e desenvolver em sociedade de uma maneira que nos agrada. Quando se está uns dias fora com os amigos, aprendemos a ver-nos a nós próprios, da mesma maneira que acabamos por entender aquilo que de melhor ou pior temos. É como se nos tivessem posto uma semana em total anarquia, mas uma anarquia especial, com cheiro a Savana, onde o predador e presa somos nós mesmos.
Obrigada amigos, pelos momentos especiais que sem vocês não teriam tido aquele sabor inenarrável.

terça-feira, julho 25, 2006

Perfil

O perfil de homem, fiel à mulher, tende cada vez mais para o seguinte:

" _ Idade superior a 90 anos
_ Operado à próstata
_ Tem conflitos com as vizinhas
_ Não quer homenagens na câmara "

quarta-feira, julho 12, 2006

Acervo luso


Depois dos quase incontáveis rios de tinta que se vão escrevendo acerca do balanço final da Selecção, não haverá muito mais a acrescentar. Agora que é tempo de fazer contas, se para uns há que questionar a participação da equipa das quinas, outros existem que lhe dedicam uma autêntica oblação. Como em quase tudo na vida, é uma questão de perspectiva. Ter chegado à meia-final, ultrapassando promissoras selecções e acabar em quarto lugar, parece que sabe a pouco. É um quase não levado a cabo, mas é o quase que foi possível e honrosamente merecido.
O futebol é um mestre em emoções. Leva ao rubro os adeptos, os jogadores, toda aquela comitiva acaba por se prostrar diante de outra que tem objectivos similares. De uma maneira ou de outra, toda a gente acaba por libertar aquele “Ohhh”.
Agora que estamos em altura do mundial, não faltam bandeiras a mostrar o pseudo patriotismo, mas depois desta febre passar e quando as bandeiras já não estiverem hasteadas para, "Inglês ver", grande parte do orgulho que ali estava também içado, enfraquece e vai-se voltando à normalidade. A rotina começa a dominar e traz consigo a amnésia daquela gente que outrora ergueu a bandeira e que hoje, passadas ainda escassas horas, não sabe sequer o simbolismo daquelas cores. Se é que alguma vez soube.
Quando já não há bandeiras à janela, mergulha-se nos problemas de um país onde o povo é cada vez menos patriota e onde os assuntos triviais passam a ser tudo menos interessantes. Palavras como “Portugal… Selecção… Bandeira…” vão, progressivamente, hibernando do google por, pelo menos, dois anos.

quarta-feira, julho 05, 2006


Já só faltam umas horinhas... Força miúdos, a Nação está convosco! Façam um brilharete, ou pelo menos brilhem... ;)

sexta-feira, junho 30, 2006

Epah pelo amor de Deus, a cena mais irrisória é lascar um dente a comer pêssego... Mas que essência!

sábado, junho 24, 2006



Naquela noite, ambos tinham ambições semelhantes. Queriam transcender-se a eles próprios e também um ao outro. Procuravam a maneira de o fazer e, apesar de esperarem que a noite os tomasse e lhes segredasse palavras que só ela saberia, havia muito mais por onde embarcar. A compartilhar aquela estranha acanhes, a Lua mostrava-se perdida na imensidão do Céu, deixando apenas transparecer uma luz ténue. Porventura, uma luz que lhes absorvia mais do que o olhar, fazendo-os questionar momentaneamente se estariam mesmo ali. Mas, mesmo que não estivessem, para quê questionar banalidades, se a única coisa que importava era aqueles dois corpos, na sua essência. Estavam ao sabor da brisa, do ambiente deliciosamente sombrio e da soberba noite. Agora, por debaixo das suas cabeças, permanecia aquela relva com uma frescura reconfortante que para além de lhes servir de cabeceira e de esteira corporal, era um complemento deles mesmos. Entrelaçados na infinidade do nada, continuavam a observar o astro celeste, ao mesmo tempo que tentavam perceber se se amavam ou se estavam apaixonados. Qualquer que fosse o sentimento, havia algo de diferente ali. Esse algo era aquilo o que os fazia questionar uma série de leis e, sobretudo, demandar o ínfimo dos seus seres. O que era mais importante? O facto de estarem ali ou interrogarem-se sobre a autenticidade daquele sentimento?


quarta-feira, junho 21, 2006

Coisas... de homens!

Ontem, fui à oficina com o meu pai. Já nem me lembrava da última vez que entrei numa. Mas, sinceramente, também não mudou quase nada. Continua no ar aquele cheirinho a óleo e borracha dos pneus; os velhotes, já barrigudos, a reclamar porque o tractor não pega; as mulheres desnudas numa das paredes; peças e mais peças por arranjar, umas já oxidadas outras lá perto. Enfim... Mas o que eu acho mais piada é aqueles cumprimentos mesmo à homem com as mãos cheias de tudo e mais alguma coisa menos de asseio, como se entende, e depois de um mecanizado “Então como vai isso?” lá sai um aperto de pulso.
São engraçados estes médicos da mais variada maquinaria e melhores ainda se os pais tiverem acertado nas medidas.

domingo, junho 18, 2006

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Nunca gostei muito de fazer planos, porque acabam quase sempre em nada. Dizem que quem espera sempre alcança e até posso concordar com isso quando entra a questão da perseverança. Alcançar o que se ambiciona há um tempo considerável é gratificante, principalmente se isso nos dá um gosto especial de satisfação. Quando a querença e a arquitectura aparentemente utópicas dão lugar a um conjunto de gestos profundamente almejados, parece que nada mais importa, pois tudo o que resta é um mero fragmento.
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