sábado, dezembro 30, 2006

Verdadeiro embuste

O Saddam, ex-presidente iraquiano, foi hoje para a forca. Depois de um processo duvidoso, no qual dois advogados de defesa foram mortos e o juiz substituído, chega-se como que brilhantemente à conclusão que teria de ser executado para mostrar a supremacia não dos bons, mas dos “mais melhores bons”: os americanos. Sob sigilo absoluto do dia da sua execução, o mundo foi hoje invadido pelas imagens do veredicto. Não terá sido, porventura, num dia qualquer mas num dia de entrega. Isto porque, naquele país hoje é tradição sacrificar-se um animal a deus. Sendo animal ou não, o enforcamento desta criatura coincidiu com o dia de hoje.
Que bonito! O Sr. Bush, todo bem apessoado, veio badalar aos ouvidos de quem o quis ouvir, que é grande e que se fez justiça. Uma justiça que não foi feita mas estruturada e posta em prática em terreno iraquiano.
A pena de morte é discutível e até pode ser uma medida eficaz quando feita condignamente. E, sobretudo, quando se vê uma melhoria depois desse acto. Eu pergunto-me que melhoria trará ao mundo esta execução? Quer dizer o Iraque é invadido pelos EUA, com a desculpa de este país ser detentor de armas químicas de ameaça mundial, (pura treta, porque afinal as armas químicas tinham outro nome: petróleo). Entra-se em guerra, quase que comparável à guerra fria, mata-se, esquarteja-se vidas humanas sem qualquer tipo de pudor, em ambas as ofensivas, e depois como prémio por tal acção, tenta-se mostrar ao planeta que os perdulários não estão vencidos, porque afinal têm a cabeça do símbolo do crime. Isto é no mínimo ironicamente sebento.
A invasão do Iraque foi um erro tremendo, levado ao ridículo pela matança que tem vindo a ser feita. Agora, para disfarçar o fracasso, enforca-se um homem porque era presidente do regime e cometeu crimes contra a humanidade. Que palhaçada! A conduta americana é que deveria ser erradicada, pois apodrece e mancha o mundo.
É que decidir o dia da morte de uma pessoa, afim de a fazer pagar na mesma moeda os crimes horrendos que esta cometeu, não é de todo dignificante. Pelo contrário, é de uma baixeza de carácter inconcebível.
Sinceramente, os embustes americanos deixam-me completamente atónica. Agora venham-me cá falar de justiça!

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Coisinha chata!

Se há coisa chata é a depilação. O dito objecto que está aqui em baixo todo lampeiro, poderia muito bem chamar-se tortura feminina. A sério, o nome assentava-lhe que nem uma luva. Agora depiladora?! Hum, isso é uma velhacaria. E a razão é muito simples: esta senhora quando está no ON é tudo menos meiguinha. Enfim... dizeres femininos imperiosos. Mas que raio, quem é que se lembrou de inventar este acto indigesto?!
Eu sei, eu sei... que uma mulher não depilada é como o Saddam sem o bigode: Epah, não faz sentido. O que faria sentido, isso sim, era que o meu cérebro fosse menos sensível ao toque desta coisinha e não me fizesse proferir a uma velocidade proporcional ao serviço deste altivo instrumento, aquelas palavrinhas que até são muito feias e tudo, pois essas... cujo teor léxico é desaconselhado às criançinhas e que a minha avó acredita que a neta não diz. Pronto, não custa pedir. Já que é Natal, que o seja para todos e em todos.
Ah, eu gostava era de ver os homens que se dizem muito viris e uma verdadeira fortaleza, a terem no corpinho, ainda que por escassos momentos, uma curta metragem desta. Sentiria uma satisfação plena ao ver-lhes a face que certamente alvitraria esse eu de macho. Até me voluntariava para fazer tão caridosa acção. Iam ver ficavam a pesar menos umas gramazitas, garanto. Sim porque os pêlos também são contabilizados na balança.
Mas pronto espécimes masculinos, como sois imensamente afortunados por não vos depilardes! Tenho dito!

quarta-feira, dezembro 27, 2006

A ler

Na véspera de Natal, a caminho de Lisboa, acabei de ler as últimas páginas d'O Perfume.
Foi-me oferecido, generosamente, por uma amiga, no meu aniversário, mas só nestas férias de Natal pude dedicar-me com afinco à sua leitura.
Obra brutalíssima e um puro vício, devo dizer. A prova disso é que mal a comecei a ler, devorei-lhe as páginas em poucos dias.
Prendeu-me desde a primeira linha o interesse, pois o facto da personagem principal, Jean-Baptiste Grennoille, ter nascido em Paris no meio da imundice a transbordar de cheiro fedorento a peixe, pareceu-me promissor. A narrativa desenvolve-se à volta do percurso de vida deste homemzinho que desperta um misto de horror e afecto, e que ficou órfão após ter nascido, pois a sua mãe foi condenada à morte depois de ter sido acusada de actos hereges. A história passa-se no século XVIII, havendo uma aprimorada reconstituição da sociedade francesa da época. Grenouille, chega à adolescência mantido vivo pela caridade alheia de alguns lares, inclusive por freiras. Ser insignificante, ao ponto de dificilmente se notar a sua presença por ser incapaz de omitir aroma algum, é desprovido de qualquer sentimento de benevolência, e responde à indiferença do mundo com um perfeito estado de ataraxia. É vil, asqueroso e desumano. Um perfeito animal raro. Além disso, tem uma característica humanamente admirável: fareja todo e qualquer odor a léguas de distância. Conhece todos os milhares de cheiros mundanos, desde ao puro lixo até à mais sublime fragrância humana. Todos menos o seu, porque não o tem. Torna-se curtidor de peles, afim de aprender a fazer o mais fantástico perfume que a humanidade alguma vez conheceu e, assim, fabricar o seu próprio cheiro. Para tal, fica operário de conceituados perfumistas daquela época. Quando se torna, finalmente, mestre na arte da perfumaria_ com direito a diploma_ sai de Paris em busca de outros odores. No seu percurso até outras cidades, mantém-se por sete anos numa caverna onde subsiste alimentando-se dos mais hediondos seres vivos animais e vegetais e lambendo, com paciência característica, gotas de água horas a fio. Sobrevive milagrosamente por ter uma constituição biológica deveras resistente. Depois, parte em estado fisicamente monstruoso em busca de uma cidade. Facto que o leva a ser elemento comprovativo de uma idiota teoria sobre a origem do mundo_ teoria do fluido letal.
O seu nariz peculiar fá-lo definir as pessoas pelo cheiro, antes mesmo de as ver. Assim, torna-se assassino de vinte e cinco lindíssimas jovens cada uma delas com um odor e beleza invejáveis, perfume esse que Grennoille precisou extorquir para fabricar o seu próprio cheiro. Laure, é a última jovem a ser assinada, pois transpira de requinte. É a obra-prima da humanidade quer em termos de fisionomia quer de odor. Tinha cabelos ruivos que cobriam o rosto sublime e lhe realçavam os olhos verdes invulgares. Este monstrozinho humano, jamais tinha farejado alguém assim. O plano macabro que o leva a matar a última jovem, acaba por ter um fim diferente dos outros, acabando por o conduzir até aos calabouços para depois ser morto em hasta pública. Porém, no dia do veredicto, este unge-se do perfume que fabricou cuidadosamente durante dois anos e acontece um milagre: as dez mil pessoas que o esperavam ver morrer com dez pancadas certeiras, que lhe destruiriam a cada toque uma cartilagem, vêm-se rendidas ao encanto do perfume. Dá-se uma orgia generalizada e aquelas figuras entregam-se aos prazeres carnais em plena praça aos olhos de todos, sob as mais inimagináveis posições e recantos. Pela primeira esta criatura pardacenta provocou amor nas pessoas. O pai de Laure, desejou adoptá-lo também ele rendido àquele ser, tal é a perfeição do perfume.
Contudo, Grennouille já tinha conseguido o que queria: a vassalagem dos humanos devido ao perfume. Não seu, mas sabiamente criado. Assim, parte de volta a Paris. Chegado lá, junta-se a um grupo de pessoas que estava na rua junto de uma fogueira, e volta a untar-se de perfume. Grennoille acaba por morrer como um verdadeiro ídolo nas mãos daquelas gentes, que o desmembrou e desossou roendo cada osso como se este homem se tratasse de uma iguaria nunca antes saboreada, sendo a primeira vez que tinham feito algo por amor.
É esta a história deste assassino. De indiferente passou a diferente pela genial mistura dos odores mais aprazíveis que o mundo pôde conhecer. Um best-seller de leitura obrigatória, escrito por Patrick Susking e editado em 1985. "O Perfume" já vendeu em todo o mundo cerca de doze milhões de cópias. E, recentemente, foi adaptado ao cinema. A não perder!

terça-feira, dezembro 26, 2006

O quase de António Variações


Esta música diz-me muito. Muito como letra. Muito como pessoa. Muito como mundo.
António Variações, de cariz incontornável.
Os Humanos estão de parabéns, pela fabulosa reconstituição que fizeram, das canções que António Variações não teve tempo de gravar e que são, por isso, o seu quase.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Post não natalício em dia de Natal


É Natal, e hoje o espírito quis que eu escrevesse assim...
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Lá fora, naquela noite, estava vento e a aparente acalmia tinha embrulhado a cidade. Joana confirmara-o com o olhar esguio que tinha lançado sobre janela da cozinha, enquanto esperava que a água estivesse pronta para envolver a saqueta do chá. De relance, olhou o relógio que resolvera colocar há poucos dias naquele espaço. Marcava 23:50.
Cá em baixo, em frente ao seu prédio, Afonso tinha acabado de parar o carro. Desde esse momento até decidir que iria tocar à campainha, tinham passado alguns minutos. A espanto, Joana abriu-lhe a porta. Enquanto se aprumava no elevador, tentava arquitectar palavras que lhe serviriam de manto no momento em que ela o questionasse sobre aquela visita deveras tardia. Por fim o elevador parou. A passos largos e com as mãos trémulas dirigiu-se a ela.
_ Afonso?!
_ De… Des… Respirou, momentaneamente, afim de restabelecer a voz e continuou. Desculpa Joana, tinha de vir! Já que não quiseste ir comigo ao cinema, tomei a liberdade de trazer este filme.
Olhou para os seus sapatos, numa tentativa de esconder a timidez e, por fim, continuou.
_Bom, o que não vale é eu ficar aqui à porta com este ar de adolescente envergonhado. Será que posso entrar?
Joana esboçou um sorriso meio incrédulo e disse:
_ Sim, entra.
Ela, com a sua simpatia característica, acomodou-o no sofá. Parecera que este o tinha esperado o dia todo.
_ Acabei de fazer chá, vou buscá-lo e bebemos os dois.
Sentado no sofá, Afonso estava tenso. A sua postura era análoga a um menino com receio que alguém descobrisse que estava apaixonado. Procurando a melhor posição para se acomodar, tinha em mente palavras que ansiavam por se libertar.
_ Pronto, cá está. É de limão, o meu preferido! Se não gostares faço-te outro.
_ Creio que não será preciso, eu gosto desse.
À medida que ela lhe colocava o chá na chávena, sentia-se com vontade de evaporar em conjunto com a exalação das moléculas daquele odor. Embora pretendesse questioná-lo sobre o facto de ele ali estar, não o conseguia fazer. Estava melindrada. Reparou que Afonso se sentia francamente embaraçado, pois entrelaçava as mãos sem qualquer tipo de intenção. Olhou-o nos olhos e estes mostravam alguma coisa que ela não conseguia definir a preceito. De seguida, baixou os olhos para poisar o bule em cima da mesa. Então, Afonso quebrou o silêncio que se tinha instalado e, exprimindo a medo palavras sentidas, proferi-as.
_ Joana, sei que me tens evitado nos últimos tempos. Eu próprio tenho sido cobarde por consentir que nos tivéssemos afastado. Lutei contra o facto de estar aqui e agora contigo, porque o meu orgulho constrange-me os actos e reprime-me. Porém, não me detive. E hoje, só hoje, eu venci-o. Confesso-te que o filme foi o único artifício capaz de me arrastar com ele até aqui. Na verdade, nem reparei qual era a capa do mesmo, porque não o quero ver nem tão pouco olhá-lo. O motivo de eu estar aqui, és somente tu. É a ti que te quero olhar, como de tantas outras vezes. Quero ver-te. Preciso ver-te. Sei que se não estivesse aqui, estaria em qualquer outro lugar. Mas o meu pensamento, esse, encarnaria em ti. Estaria nos momentos em que, mais do que um do outro, fomos nós. Tu à tua maneira e eu à minha. Fazes-me terrivelmente falta. Superior àquela que julguei ser possível suportar. Tanta que me sufocas por não estares e quando estás é no teu sufoco que me descubro.
Joana tentou tomar-lhe as palavras mas desde logo Afonso a deteve.
_Não, deixa-me continuar! Se paro, já não prossigo. Vai arrefecer-me a alma e com ela qualquer réstia de bravura que neste momento ainda está em mim.
Não me peças para ir embora. Há palavras em mim, que, ou digo agora ou são recalcadas para a mente calar.
Quero-te. Quero-te muito. Assim, em ti. Com cada defeito e cada virtude. Sem ti não me acostumo, porque sem ti perco o meu próprio costume. Perco-me e não me sei encontrar. Cada momento em que há de ti, faz-me renascer. Porém, não quero renascer, quero ser. Só isso. Se existir contigo, consumo-me sem me gastar. Por isso, das outras vezes, não há mais nada em mim para além de um eu que não quero nem sei encontrar.
Respirou, tencionando continuar, mas a voz de Joana sobrepôs-se.
_Também te quero, mas não te posso ter. Se te tivesse, possuir-te-ia. Quando se tem, o encanto quebra-se pelo facto de, mesmo inconscientemente, querermos possuir e possuir não é ter, mas roubar. Roubar-nos nos outros. A minha cama é fria quando não estás. A minha alma não quer existir por não encontrar alento. Estou magoada, pois sei que não te consigo magoar. Queria gritar, expulsar-te daqui, mas seria destruir-me. Se ao menos não te desejasse, tudo seria mais fácil.
Calaram-se. Foram silêncio. Naquela noite, a mesma do vento lá fora, encontraram-se mutuamente na lentidão da incerteza, na respiração ofuscante e na partilha dos seus corpos. Muito mais do que pertença carnal, foram eles. Dissiparam-se naquele momento que não era da imortalidade, era só e unicamente deles. E, porventura, da complementaridade daqueles dois mortais que pertenciam, impreterivelmente, um ao outro. Muito mais do que à Terra ou a um deus.

sábado, dezembro 23, 2006

Natal

Paz no mundo?
Igualdade de direitos?
Maior espírito de solidariedade?

Bla, bla, bla…


Pede-se às crianças para o desejarem, porque os adultos outrora também foram assim... ingénuos.
Que bonito que soam os protocolos. Pois, isso.
O melhor das pessoas não se vê, e ainda bem, num simples dia, mais de espírito comercial do que de outra coisa, nem nas prendas que se dão ou nos sorrisos forçados para desejar boas festas. Mas, há quem pense que sim. Eu penso que não.
Opiniões.
E, já agora, feliz Natal à medida da grandeza de alma de cada um, se possível...

terça-feira, dezembro 19, 2006

Perguntas difíceis p'ra caraças...

Hoje, enquanto enfeitava a árvore de Natal com ajuda de um menino de seis anos, ele olhou para mim e perguntou:
_ O que é a essência?
Fiquei literalmente a olhá-lo de olhos esbugalhados, como se tivéssemos a mesma idade. Depois de me rir com um sorriso incrédulo pelo facto de ter ouvido isto de um puto do primeiro ano, questionei-me a mim mesma como é que iria responder àquilo. Nessa altura, fui salva pela mãe dele que o veio buscar.
Antes de se ir embora, esboçou um ar traquina e hilariante. No meio de um aceno, disse-me:
_ Ainda me vais explicar...
De facto, eu até poderia esperar perguntas como: Por que é que se faz o presépio? O pai natal existe? E coisas do género. Mas agora, uma questão destas... isso, não esperava de todo.
Agora pergunto eu, como é que se explica o que é a essência a uma criança???
Hum... quando somos crianças é tudo tão mais fácil...
É mais fácil pedir colo....
É mais fácil dizer baboseiras...
E, sobretudo, é mais fácil fazer perguntas difíceis p'ra caraças!
Enfim... outros tempos.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Dente por dente... siso por siso


No último mês do ano, um certo senhor fez questão de me lembrar que também tinha direito a existir. Sem eu notar, juntou-se aos outros. E agora tenho um dente a mais ou mais um dente… Pois então, qualquer boquinha que se preze tem de ter um dente do siso. Dizem que é sinónimo de juízo. Não faço ideia, porque o juízo é só relativamente estranho…
Mas agora já me posso sentir realizada, afinal começo a ter uma percentagem elevada de juízo na minha boca… Hein, cá está o que tenho vindo a esperar desde que uma vez pedi à minha mãe para ela me trazer todos os xiklates_ como eu dizia na altura_ que houvesse no supermercado e ela me respondeu:
_ Oh filha, eu juízo nessa cabecinha não?

Pronto, agora que juízo na cabeça é démodé, tenho juizinho… na boca. Cool!

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Aquecimento anímico

Às vezes sonho. Outras vezes sou real. Num recanto mais ou menos aperfeiçoado, encontro-me em cada pincelada de ambição. Sonho por exigência, por vontade, por mim e comigo. Sonho porque sim. O desejo é mestre e eu, por vezes, sua aprendiza. No seu bailado revogo-me. Num endereço anunciado e pródigo aceno ao desejo de ser. Em certas ocasiões, abraço-o com o afinco próprio de quem se edifica sobre as movediças aragens de uma alma habituada a mim.
Entre alguns graus abaixo ou acima dos limites impostos, assimilo-me numa posição mediana. Mas a virtude não a encontro no meio. Vislumbro-a vertiginosamente nos excessos de uma ou de outra extremidade pois, onde quer que ela esteja, a vertigem antecede-a. Imito-lhe os passos, quando me apetece imitá-los. Faço caminhos divergentes quando os seus passos já não são visíveis ou, simplesmente, não os posso trilhar.
Aqui e ali paro, escuto e até olho. Prendo-me às amarras nítidas de tão polidas que estão, nas quais o sonho embarca sendo deriva. Bóia de forma ingénua e brandamente distraído, com excesso de peso ou demasiada leveza. Quando não chega a boiar, pelo menos está lá. Se a minha mão quase o atinge, ele foge. Se o ignoro faz-me afronta. Sorri-me quando o suplício o domina e recata-se quando a imensidão o desafia. De quando em vez, convida-me a embarcar. É costume ir só ele. Ver partir é bom quando se faz falta no porto. Ao optar por ficar, ele aluga-me o olhar e eu vejo-o diluir-se. Depois, viro-lhe as costas e venho para casa. Sei que voltará e será, invariavelmente, meu hóspede intríseco.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Hoje... dei sangue


Hoje fui ao hospital com mais três amigos. Felizmente imune a qualquer fragilidade de maior, fazer algo que já era minha intenção há algum tempo. Tornei-me dadora de sangue. Depois de cumprir os trâmites que havia a cumprir, e de responder a tudo e mais alguma coisa que a doutora que ia perguntando, lá dei o braço ao manifesto. Estive recostada na poltrona com uma agulha entranhada nas minhas veias, que me retirou 450 ml do dito líquido, por alguns minutos. Numa postura de verdadeira, passo à expressão, chairwoman. Foi um acto de longe doloroso, mas fiquei meio entontecida. A minha tensão arterial que anda sempre na sua, bem calminha, não achou muita piada. Causou-me, momentaneamente, um nó na garganta, mas nada que umas gotinhas de vasopressina, ou uma parente próxima, não tivessem resolvido. De volta a mim, lá mordisquei voraz qualquer coisinha. Com um penso em cada braço, estou de novo operacional enquanto o organismo se está a encarregar de repor os mililitros que doei.
Sinto-me bem fisicamente e, mais importante que isso, estou realizada. Sempre considerei os dadores de sangue pessoas deveras valorizáveis e hoje sinto-me virtuosa por me ter associado a eles. Na cedência de dez minutos da minha existência, fui útil pois sei que neste momento alguém pode estar a precisar, vitalmente, daquele saquinho.
Por agora, dissipo-me no ócio. Sob os acenos a uma sociedade com azia a dádivas.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Dia produtivo

Hoje foi um dia daqueles produtivos, senão vejamos:

Hora a que me deitei: 6:30

Hora a que me levantei: 16:30

Vida para além da caminha, hum... outro dia, quem sabe.

Noite de ingestão de mais de um litro de coca-cola a que meu estômago não se renegou. Pois, pudera…

Água, alguma… efectivamente.

Frase sensação: “Ah, eu conheço-te! Já te vi no hi5… o que quer dizer: produtividade fenotípica?” (efeitos do progresso em estado… puro! )

Portanto, viver para além das mantas… hoje foi mentira! Amanhã pode ser que tenha tempo para ver a luz do Sol… Fica a esperança, mas que soube bem dormir, lá isso…
Nem a minha mãe me chamou para almoçar, isto foi um verdadeiro milagre em dia santo! Efectivamente… foi!
E pronto... começaram assim as minhas, teóricas, férias de Natal...

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Coisas boas


Hoje quando cheguei a casa, havia um cheirinho a o arroz doce que me deliciou de imediato. Num acto quase mecânico, fui direitinha ao fogão. A minha mãe estava a caprichar e eu em profunda gula, comi … comi … comi e continuaria a comer se o estomâgo não se tivesse queixado de tão cheio e acalentado que ficou.
Hum… ainda estou empanturrada, mas são estes os pequenos sabores da vida. Os sabores das coisas boas e inconfundíveis. Dores de barriga destas não me importo de as ter, porque depois acabam por passar e até lá são eterizadas pelo consolo.

sábado, dezembro 02, 2006

E saem dois sequíssimos...




Izaaaaaaaaatu Ricardinho, ide buscá-las, ide...

_ Olhe sff eu já escolhi

_ E então, o que vai ser?

_ É o menu caseiro, com dois bifes sequíssimos e bem passados...

_ Com certeza, é para já! Saem em menos de 45 minutos!

_ E para beber, o que deseja?

_ Licor de leãozinho à moda de Alvalade!

Gosto tanto de você leãzinho, encostado às malhas és um... pitéuzinho!!! :P

P.s: Perdão pelo sarcasmo, mas há coisas fantásticas não há?

Ah e cuidado com a azia, porque eles andem aí aos pares de dois... ;)




sexta-feira, dezembro 01, 2006

Os humanos NÃO são super heróis!


Hoje é feriado por se comemorar o dia da restauração desde 1640, e o sol até vai emprestando de si. Contudo, não é sobre esses dizeres que tenho necessidade de ocupar as próximas linhas.
Enquanto o mundo já girava há horas numa correria de afazeres, eu permaneci a manhã toda aconchegada no sítio mais fantástico do meu quarto. Quase sem notar que tinha acabado de acordar, dei por mim a pensar que hoje é o dia mundial de luta contra a SIDA. Roubei o arcaboiço aos lençóis e disse para comigo: “Como é que eu encararia a vida se o meu corpo tivesse, progressivamente, desprotegido até ao fim da linha…?
De facto, esta síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA), que resulta da acção do vírus da imunodeficiência humana (VIH), é um flagelo à escala interplanetária. Vinte e cinco anos depois ter nascido para matar, dia após dia, vai infectando e afectando novas pessoas. Esta arma mortífera tem assombrado o mundo dos mortais. Chega de forma sigilosa, apodera-se da constituição básica do organismo dos humanos e impõe-se a todo o custo. Ao penetrar no organismo do hospedeiro, não conhece limites, pois começa de imediato a reproduzir-se dentro dos linfócitos T4 e replica-se destruindo as células defensoras do organismo e por conseguinte toda a linha imunológica das pessoas, deixando-as infectadas (seropositivas).Embora a SIDA, por si só não mate, faz matar. Doenças oportunistas advêm e conduzem-nos a um processo de “autodestruição”. Mais do que relembrar a sua definição científica é preciso aniquilá-la, ou pelo pelos, evitá-la. Atinge-nos por via sexual; por contacto sanguíneo; de mãe para filho durante a gravidez ou parto, bem como pela amamentação.
Revolta-me de forma desmedida e colérica, o facto de as pessoas não se protegerem dela. Julgar-se-ão super heróis e portanto feitos de uma matéria indestrutívell?! Devo chamar-lhe apenas irresponsabilidade desmesurada?! O mal não acontece só aos outros e é pena que, por vezes, seja necessário ele apoderar-se das pessoas para que elas consigam entender isso. Passar-se de imune a contaminado está a um pequeníssimo passo. Todos os dias são dias de contágio evitável!
Não é por acaso que Índia possui dos índices mais elevados de infectados. Infelizmente, aí, as condições de acesso a um simples preservativo são deploráveis. Porém, em Portugal, abunda o acesso aos mesmos e à própria informação, facto que não nos coloca na cauda da Europa e do mundo no que se refere ao número de infectados. Antes pelo contrário, as pessoas não se protegem convenientemente. É grave e imperdoável a falta de discernimento. A estupidez tem limites que, sob pena alguma, devem ser excedidos.
A SIDA tem de ser anulada e não uma fonte de anulação. Fazemos todos parte de uma massa humana a que chamamos de humanidade. Um por um, somos responsáveis não só por nós mas também por ela. A finalidade da evolução é progredir e não regredir. É curioso como um bolo gigante pode ser reduzido a migalha por um exíguo aglomerado de moléculas, que nem sequer células tem e que é de tamanho tão insignificante que não se vê. Talvez esse seja o grande problema. Julgamo-nos apenas um possível alvo daquilo que vemos e que nos impõe respeito pela grandeza que afigura. Este é um erro crasso que acaba por ter o preço mais elevado de todos: a vida.