segunda-feira, janeiro 29, 2007

Fantástico!

The Kelly Family_ I Can't Help Myself
E dizem vocês: Epa, esta é velhinha como o caraças! Pois é, sim senhor.
Contudo, o tempo não lhe conseguiu roubar a fragância de outrora. Aquela das tardes primaveris da meninice, da inocência de um sorriso, da sinceridade de um sentimento, das coisas verdadeiramente únicas e irrepetíveis . Enfim, aquela que ficou perdida num qualquer esconderijo da escola primária e que hoje só o colo da saudade a acaricia com mimos.
Palavras para quê... É um espanto!

domingo, janeiro 28, 2007

Outros tempos, outros amores...

Nestes dias, a minha avó pediu-me para a ajudar a procurar o cartão do utente, perdido algures na sua mala. Como já lhe conheço os compartimentos de cor, ajudei-a prontamente. Naquela busca intensiva, achei por mero acaso, uma carta que lhe foi endereçada há sessenta e sete anos, tinha ela na altura dezoito. À primeira vista, parecia um singelo papel a juntar à restante tralha que lá reside. Porém, achei curioso o facto de estar tão bem dobradinho, que resolvi desenrolá-lo. Quando comecei a lê-lo, só parei no fim. Estava tremendamente bem escrito para o grau de estudos da época. Começava assim:
Menina Conceição, levarei rodas de parvo por lhe escrever, mas prefiro correr esse risco do que sepultar à nascença estas palavras em mim”. Depois continuava com uma subtileza que hoje em dia tenho dificuldade em encontrar. Linha após linha, notei por detrás daquelas locuções, um sentimento coeso. Não eram palavras soltas ou dizeres alheios cujo único intuito é encher o papel, pois estava tudo encaminhado de tal forma que me causou um friozinho na barriga. Era nítido o carácter viril da época, saltando à vista uma educação requintada. Terminava com a seguinte frase: “Não tenha vergonha de falar comigo no fim da missa. Lá a aguardarei”.
Após ter lido aquela inconfidência, já desgasta pelo tempo, olhei para a minha avó e antes de qualquer tentativa de comentário, ela esboçou um sorrriso comedido e disse-me: “Já lá vão uns anos, mas fiz questão de a preservar”.
A carta deu em namoro, mas não em casamento. Coisa rara na época. Tentei averiguar o motivo do rompimento da relação, ao que conclui que a força desmedida dos meus bisavôs para que tudo terminasse, foi superior a qualquer sentimento. O homem daquela gentileza toda morreu e os meus avós acabaram por se casar.
Fiquei a pensar em muita coisa, como no suporte de uma relação apenas consumada à janela ou eventualmente por esporádicas visitas a casa, sob a alçada minuto a minuto dos pais.
Em pouco mais de sessenta anos, o mundo deu uma reviravolta gigantesca. Hoje já ninguém namora à janela, nem tão pouco vai à missa com um lenço na cabeça. Mas será que o amor naquela época não era, realmente, à prova de bala?
Actualmente, a facilidade das coisas e a leviandade da própria maneira como se gosta para no “minuto” seguinte se ser indiferente, destruiu grande parte da beleza que o amor acarreta.

domingo, janeiro 21, 2007

Por estes dias... esta



The Kooks - She Moves In Her Own Way

So at my show on Monday
I was told that someday
You'd be on your way to better things
It's not about your make-up
Or how you try to shape up
To these tiresome paper dreams
Paper dreams honey
So now you pour your heart out
You're telling me you're far out
You're all about to lie down for your cause
But you don't pull my strings
Cause I'm a better man
Moving on to better things
But uh oh, I love her because
She moves in her own way
But uh oh, she came to my show
Just to hear about my day
And at the show on Tuesday
She was in her mindset
Tempered firs and spangled boots
Looks are deceiving
Making me believe it
And these tiresome paper dreams
Paper dreams honey, yeah
So won't you go far
Tell me you're a keeper
You're all about to lie down for your cause
But you don't pull my strings because
Cause I'm a better man
Moving on to better things
But uh oh, I love her because
She moves in her own way
But uh oh, she came to my show
Just to hear about my day
Yes our wish's that we never made it
Through all the summers
We kept them up instead of
Kicking us back down to the suburbs
Yes our wish's that we never made it
Through all the summers
We kept them up instead of
Kicking us back down to the suburbs
But uh oh, I love her because
She moves in her own way
But uh oh, she came to my show
Just to hear about my day
But uh oh, I love her because
She moves in her own way
But uh oh, she came to my show
Just to hear about my day

Neste solarengo domingo de Inverno, acordei com uma vontade louca de ouvir esta música. Tudo nela é um brinquinho: os meninos, a letra e o ritmo.

sábado, janeiro 20, 2007

Abaixo esses ingredientes senis!

Estão a ver aquela mistura de ingredientes, para muitos deleitosa, à qual a comum boca dos mortais reage com um salivar que de comedido pouco ou nada tem, e que se dá pelo nome de bolo? Sim, essa mesmo. Pois bem, eu detesto-a! Não é que não seja gulosa, porque o sou e muito. Mas farinha, ovos, açúcar e essas coisas mais que envolvem a forma antes de ir ao forno, não me seduzem minimamente. Sempre que ofereço esta amálgama ao paladar, ele, invariavelmente, obriga-me a decretar-lhe uma acção de despejo. Mesmo que as doses misturadas e a própria mistura seja diferente, não acha qualquer piada. Vá-se lá entendê-lo.
Ainda se fosse um chocolatinho, um kinder barritas por exemplo… Aí o cenário era outro. Imaginando que o mundo tinha sabor a chocolate em tarde infantil de descobertas ingénuas, eu estaria na primeira fila pronta a digeri-lo. Garantidamente.
Nem que eu viva cem anos e que a Lili Caneças consiga sobreviver sem plásticas, um bolo superará um magistral chocolate. Ou em bom português: nem que a vaca tussa!

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Casualidades


Perdi o conto às vezes que de sorrateiro chegavas sem eu pedir, trazendo contigo sorrisos forjados a um lado do avesso que nunca deixaste que te conhecesse. Depois, no mesmo ápice com que um olhar se confunde com uma acção, viravas as costas por saberes que se o desejo de eu te levar até a um esconderijo nosso pudesse ser real, estaríamos os dois perdidos e sem vontade de encontrar o que quer que fosse.
A saudade deve ser a via mais longa e íngreme de se percorrer. Por maior que seja o fôlego, a combustão imobiliza qualquer tentativa de avanço. A certa altura, andamos só para vencer o frio. Reparamos que as mãos têm frieiras, o rosto está polido devido à gélida aragem e os pés teimam em renunciar ao peso do corpo. Somos atirados para a valeta sem que nada nem ninguém nos tenha empurrado. Só quando ouvimos o barulho dos que passam pelo alcatrão na via principal esquecendo as valetas, é que compreendemos que seríamos lixo comum, caso tudo se resumisse a uma única estrada onde as abas não encontrassem local para existir e, na qual, as valetas fossem apenas um pedaço a amputar.
Os dias vão, levando consigo a vontade e deixando somente um corpo entregue ao fracasso carnal. Posteriormente, numa qualquer hora de ponta apanhamos boleia. Contudo, temos peso a mais connosco para poder avançar. Por isso, vamos progressivamente eliminando o que nos parece estar só por estar. Se ao menos fôssemos um usual baú,
cujo conteúdo estivesse a abarrotar de coisas que facilmente se confundissem entre tantas outras, poderíamos desde logo seguir viagem. Mas não, porque é no umbigo de uma espécie de morfina que encontramos guarida.
Por fim, quando tudo se resume à incapacidade de sequer soltar um grito, ficamos a meio do caminho e isso pouco interessa, pois já perdemos muito mais do que carga física. Perdemo-nos. Perdi-te.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Grande malha!



Red Hot Chili Peppers - Snow (Hey Oh)

Não me canso de ouvi-la.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Coisas minhas

Gostava de saber sussurrar a mim mesma uma série de segredos só meus, mas às vezes parecem demasiado desmembrados para consentirem uma partilha, ainda que esta seja de mim parar mim. Crescentes agudizações dissolvem-se nos gritos mudos que não dou, nos passos contidos de uma caminhada alucinada pelo mundo ao qual me habituei.
Gostos confundidos, recantos não partilhados, insignificâncias que só a vida me conhece. Assim, só assim. Neste vagão pouco nítido, indago o meu ser com diligência. Sou um apêndice consentido no mundo e ele meu. Estamos em simbiose nos secretismos aparentemente fúteis. Torno-me eu nas noites recatadas, nos sorrisos rasgados, nas estrelas que não dependem, um só instante, de mim. De mim para mim, não há um espaço mensurável, nem uma comunicação falhada. Há intermitências escondidas, que desfolho e por vezes sei de cor.
Procuro-me e deixo que me procurem. Em mim pelo que sou, fora de mim pela dose que me administram. Gosto-me. E não sei gostar não amando a
entrega, onde não me dou por exigir estar de corpo e alma. De corpo no desejo e de alma no empenho.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Memória de elefante

Tive um professor de Psicologia que falava, por diversas vezes, acerca dos livros de António Lobo Antunes, um médico especializado em psiquiatria por pensar que era parecido com literatura - palavras do próprio - Naquelas aulas era comum ouvir elogios recorrentes a uma escrita fantástica aliada a um conhecimento invulgar.
Certo dia, veio à baila a obra “Memória de Elefante”, o seu primeiro romance, datado de 1979. O nome ficou-me na memória, longe de ser de elefante, e por cá tem andado. Acontece que hoje fui à biblioteca, e rebosquei o dito livro no meio dos ínumeros que abarrotam aquelas prateleiras. Acabei por o encontrar e trazê-lo comigo, para com ele iniciar um subterfúgio aparentemente promissor a avaliar pelas seguintes palavras existentes nas linhas primordiais:
_ Senhor Morgado, pela saúde dos seus e dos meus tomates não me lixe mais com o caralho das quotas durante um ano e diga à Sociedade de Neurologia e Psiquiatria e amanuenses do cerebelo afins que metam o meu dinheiro enroladinho e vaselinado no sítio que eles sabem, obrigadíssimos e tenho dito. Ámen.
Bom, isto foi somente a página doze. Veremos o que me espera nas outras. Mas tem pinta, diga-se.
Se qualquer pessoa proclamasse tal recanto obscuro da língua mestra de Camões, teria gratuitamente o título de mal educado e parvalhão. Mas estando isto num livro de renome, a leitura é eminentemente produtiva. Portanto, a editora lançou e a malta adere. Vou descamisar estes dizeres para ver que palavras tão notórias são estas.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Zé-povinho, ciência e deus

O atestado de adolescente surge quando somos obrigados a questionar o mundo. Fazemo-lo numa tentativa de perceber o que nos é extrínseco e edificar o que é intrínseco, por forma a não papar, pura e simplesmente, as opiniões alheias. Questionar é aquilo que dá sabor à vida. Por isso, questiono-me sobre muitas coisas e às vezes, como hoje, sobre deus.
A religião entra onde a ciência se cala. Não se invoca deus para explicar a razão pela qual as rodas de uma bicicleta giram, nem por que é que está céu azul num dia de calor intenso de verão. Não se coloca deus nessas coisas, pelo facto da ciência explicar. Mas, a partir do momento em que não se consegue apontar o porquê, concebe-se um deus. Sempre foi assim desde os primórdios da humanidade e assim será, pois a ciência nunca decifrará tudo e haverá sempre necessidade de a mistificar. Quando não há explicação objectiva, existe uma entidade sacra como motor impulsionador de tudo. É assim a comum ideia de deus: Ele está em tudo e é o tudo. Sendo o tudo não é o nada. Este último, diz o povo em jeito falacioso, não é relevante se pensarmos no todo. Será, porventura, a insignificância da meretriz.
Ora, assim sendo, o deus do Zé-povinho não é o mesmo deus da ciência. O Zé-povinho, que é a figura elucidativa do vulgo, crê no mistério da vida segundo Jesus Cristo. A ciência escarnece o Zé-povinho e mostra-lhe que Adão e Eva não são mais que uma mera parábola. Ao que ele ri, pestaneja e só não solta uma palavra indecorosa porque é bem-educado. Mas, pensa para consigo, que com estas ideias, afirma ele novatas, o mundo caminha para uma ida sem retorno. Uma ida à heresia abusiva. É a mesma coisa que dizer a uma criança do primeiro ano que também existem números negativos. Ele certamente olharia com o espanto próprio da idade e não compreenderia. Afinal o mundo dos crescidos não o seduz grandemente.
O Zé-povinho acredita na igreja porque recebeu a sua doutrina desde pequenote e nunca a questionou verdadeiramente. Confia na imaculada paixão de Cristo como tábua rasa para a salvação de si mesmo. Reza terços, pede a deus tudo e mais alguma coisa. Mas, bem lá no fundo, não O consegue conceber nem apontar as razões para a sua crença.
Contrariamente a este, o deus da ciência é um deus anti senso comum. Se troveja não é porque Jesus está a ralhar. Chove porque é uma questão de equilíbrio natural e indispensável. A perfeição desse deus está, portanto, na complexidade da vida. Do planeta que nos alberga e do resto do tal todo. Agora o todo faz sentido, por não ser taxativamente o que resta das outras partes que não estão incorporadas na somatória. Interessa rebuscar, procurar, investigar com fracassos desmedidos ou pequenos triunfos. Estaríamos na idade da pedra se não se tivesse acreditado que era possível ir à lua. Mas, a verdade é que se avançou quer fosse a medo ou com coragem gratificante. Fomos à lua e viemos. Pisámos o universo além Terra. Ousámos contestar as leis que durante muito tempo estiveram sob domínio teoricamente não alcançável, apenas como constituinte do segredo do(s) deu(s). A ciência acredita no não crível e sustenta as bases dessa crença, não mítica mas terrena.
Assim, a ciência e o Zé-povinho, duas formas distintas de crer na existência, poderiam completar-se mas estão em campos não complementares e, possivelmente, sisudos. Esta e o conhecimento vulgar representam, talvez, a matéria mais discordante que a humanidade conhece. Contudo, nascemos para o senso comum, mas é com a ciência que vivemos.
Não obstante, todas as nações acabam por se objectar acerca da vida para além da morte. Aqui não entra nem Zé-povinho nem a ciência, pelo menos directamente. Morreremos apenas para dar lugar aos outros ou partiremos para outra morada não perecível? É precisamente neste ponto que há necessidade de acreditar no que não se vê.
A vida não depende de quaisquer crenças. Gira por critérios bem definidos e por vezes desconhecidos. Rege-se por si, não necessariamente por alguém. Aprendeu sozinha como se construir e como construir os outros. Dia após dia tem mutações, mas nunca deixa de ser o leme de tudo. E, quando o homem a quer igualar, ela cinge-se à sua infinita grandeza e reduz esta criatura à insignificância do seu ser. Mostra-se secreta em alguns domínios como o da morte ou não vida. Verosimilmente até nem tem secretismo algum porque não tem de haver, por força da obrigação, vida depois desta que nos constitui. Haverá, no entanto, sempre a necessidade de acreditar que sim. Já dizia António Gedão: “ O sonho comanda a vida”.
Alimentar a crença num deus, é alimentar a pequenez humana tentando sobrepujá-la a um plano divino de perfeição, não atingível. Contudo, a necessidade agudiza o desejo e fá-lo sustentar, desmesuradamente, a crença no invisível afim de apaziguar limitações humanas.
Crer não é nem pode ser um acto leviano. Existirão, porventura, deus levianos.

domingo, janeiro 07, 2007

E o meu voto foi para...

Colosseum (Roma, Itália)






Eiffel Tower( Paris, França)





Great Wall(China)




Machu Picchu (Peru)





Pyramids of Giza (Egipto)




Sydney Opera House (Sydney, Austrália)






Timbuktu (Mali)







Não deixes de votar: http://www.new7wonders.com/

sábado, janeiro 06, 2007

Por cá... isto

Hoje é dia de reis. Assim sendo, por cá soou aos ouvidos de quem quis ouvir, uma cantoria que desde a escola primária, está nas entranhas do meu arquivo de memórias. Portanto, saquearam-me de casa e puseram-me a pisar alcatrão e a desbaratar de cá de dentro, um som que, teoricamente, deveria ser superior à qualidade do karaoke.
Compartilho convosco, a qualidade do mesmo. Desfrutem-no.

“Já chegaram os três reis dos lados do Oriente
Visitar o deus menino, filho de um omnipotente
Pelas estrelas se vão guiando, vão seguido o seu caminho
Afastados de Belém lá virão esse menino
Lá virão esse menino, numas palhinhas deitado
Sua mãe está dizendo meu querido filho amado.
Parabéns, vindes ao mundo para ser Jesus sagrado.

As esmolas que vós dais, não julgais que as comemos
São para as almas do purgatório, que todos nós a temos.
Senhora que estais ao lume, nesse doirado assento
Venha dar esmola aos reis, em louvor do nascimento.”

E pronto. Depois há lareira, chouriço e convívio fraterno da brigada do reumático, com floribella à mistura. O sonho dos dementes. Eu fico-me pela demência não fraterna.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

"O único defeito das mulheres"

Hoje, vim aqui ao blog pronta a constatar outros dizeres. Porém, como a minha caixa do hotmail anda cheiíssima e, agora com um giga até me esqueço que os mails são feitos para ler, deparei-me com o seguinte texto.
Portanto, cá está ele para esses senhores mundo além que confundem virilidade com força.
Texto de Sérgio Gonçalves, redator da Loducca, publicado no jornal da agência.
"Se uma memória restou das festinhas e reuniões de familiares da minha infância, foi a divisão sexual entre os convivas: mulheres de um lado, homens do outro. Não sei se hoje isso ainda acontece. Sou anti-social ao ponto de não frequentar qualquer evento com mais de quatro pessoas, o que não me credencia a emitir juízos. Mas era assim que a coisa acontecia naqueles tempos. Tive uma infância feliz: sempre fui considerado esquisito, estranho e solitário, o que me permitia ficar quieto a observar a paisagem. Bem, depressa verifiquei que o apartheid sexual ia muito além das diferenças anatómicas. A fronteira era determinada pelos pontos de vista, atitude e prioridades.
Explico: no lado masculino imperava o embate das comparações e disputas. "O meu carro é mais potente, a minha televisão é mais moderna, o meu salário é maior, a vista do meu apartamento é melhor, a minha equipe de futebol é mais forte, eu dou três por noite" e outras cascatas típicas da macheza latina.
Já no lado oposto, respirava-se outro ar. As opiniões eram quase sempre ligadas ao sentir. Falava-se de sentimentos, frustrações e recalques com uma falta de cerimónia que me deliciava. Os maridos preferiam classificar aquele ti-ti-ti como mexerico. Discordo.
Destas reminiscências infantis veio a minha total e irrestrita paixão pelas mulheres. Constatem, é fácil. Enquanto o homem vem ao mundo completamente cru, as mulheres já chegam com quase metade da lição estudada. Qualquer menina de dois ou três anos já tem preocupações de ordem prática. Ela brinca às casinhas e aprende a pôr um pouco de ordem nas coisas. Ela pede uma bonequinha a quem chama filha e da qual cuida, instintivamente, como qualquer mãe veterana. Ela fala em namoro mesmo sem ter uma ideia muito clara do que vem a ser isso. Noutras palavras, ela já nasce a saber. E o que não sabe, intui. Já com os homens a historia é outra. Você já viu um menino dessa idade a brincar aos directores? Já ouviu falar de algum garoto fingindo ir ao banco pagar as contas? Já presenciou um bando de meninos fingindo estar preocupados com a entrega da declaração do IRS? Não, nunca viram e nem hão-de ver. Porque o homem nasce, vive e morre uma existência infanto-juvenil. O que varia ao longo da vida é o preço dos brinquedos. Aí reside a maior diferença. O que para as meninas é treino para a vida, para os meninos é fantasia e competição. Então a fuga acompanha-os o resto da vida, e não percebem quanto tempo eles perdem com seus medos. Falo sem o menor pudor. Sou assim. Todos os homens são assim.
Em relação ao relacionamento homem/mulher, sempre me considerei um privilegiado. Sempre consegui ver a beleza física feminina mesmo onde, segundo os critérios estéticos vigentes, ela inexistia. Porque todas as mulheres são lindas. Se não no todo, pelo menos em algum detalhe. É só saber olhar. Todas têm a sua graça. E embora contaminado pela irreversível herança genética que me faz idolatrar os ícones da futilidade, sempre me apaixonei perdidamente por todas as incautas que se aproximaram de mim. Incautas não por serem ingénuas, mas por acreditarem. Porque todas as mulheres acreditam firmemente na possibilidade do homem ideal.
E esse é o seu único defeito."

quinta-feira, janeiro 04, 2007

A passagem de ano teve destas coisas

Muita festarola, borga até mais não, água que nunca mais acabava e outros afins. Estas são palavrinhas que encaixam na perfeição no arranque de mais um ano. Diferente, é verdade. Meninas e meninos, lá fomos nós rumo à Nazaré, quando a tardinha já pairava – é que o almoço foi coisa demorada, mas calórico e bom como grande parte dos actores do Tróia – Bom, o que interessa é que fomos e até chegámos em coisa de uma hora e piques. Era lusco-fusco quando poisei os sacos num beliche, que não cheguei a experimentar verdadeiramente, pirando-me depois até ao terraço do dito alojamento. Coisa gira, sim senhor. Já havia um grande alvoroço lá em baixo, mas o jantar, esse, já as minhas narinas há muito o tinham denunciado. Cheirava a carninha da boa e marisco apetecível. Depois, o paladar acabou por comprovar que a comidinha era isso e muito mais. E os doces? É que nem valeu a pena eu lhes ter feito, inicialmente, carantonha porque devem ter libertado assim como que uma espécie de ferormona e, portanto, uma mulher não é de ferro. Estavam efectivamente, no ponto divinal. Aquela voracidade toda durou umas duas horas e meia. Ai, ai paladar a quanto obrigas! Eu bem queria ter parado antes, mas o meu hipotálamo deve sofrer de alguma disfunção irreversível. Raio, já não há máquinas como antigamente.
Ao menos ainda estivemos a divagar pelos acontecimentos de 2006, ai tanto devaneio, meu deus! Recordações, suspiros, saudades, e muita risota à mistura com os ingredientes da jantarada. Após isto, já de barriga cheia e com uma enorme vontade de ir lá para fora participar da orgia festiva, com todos os protocolos que as gentes de boas famílias seguem, claro está, arrumámos tudo. Os senhores limparam a loiça e as meninas lavaram-na. Ficou tudo num brinquinho. Depois as meninas ultimaram os os adornos e os meninos fingiram que não, mas bem os vimos a tentarem intimidar o espelho da sala. No quarto, lá tive de dar uma mãozinha à d.cuvázia, porque se lembrou de trazer um top todo pomposo e tal, mas esqueceu-se do manual de instruções. Fiz uso do slogan: "Onde a Sara mete a mão, tudo tem solução" e a coisa resolveu-se. Claro que a malta ficou toda bonita e cheirosinha e pisgámo-nos, para só voltar quando o Sol, ainda com cara de sono, lá resolveu aparecer. Ou era ele que estava com cara de sono, ou éramos nós que estávamos acordadíssimos. Bom, mas isso são outras coisas.
Fomos embora, arrastados pela multidão. Devem ter combinado com aquela gente toda sair ao mesmo tempo, e ninguém me avisou. Lá fomos, descemos as escadinhas, as rampas, pisámos tudo o que era alcatrão e não alcatrão e, por fim, chegámos à praia. Como a minha avó diz: “parece que a galega tinha parido”. Tanta gente, que naturalmente tive de pôr os olhos em operacionalidade plena num raio de alcance considerável, para confraternizar acerca dos fenótipos da zona envolvente. E, diga-se de passagem, eram muitos. Ainda bem, assim é que é bonito, a gente agradece.
Eis senão quando, foi meia-noite. Houve champanhe daquele doce, que é bom e eu gosto, para todos e em todo o lado. Fiquei impregnada desse dito sumo. Enfim, depois houve fogo de artifício, e eu lá me redimi.
Conclusão, ficámos na praia até o sol raiar. Com muita borga, muita areia, muita galhofa. E, sobretudo, com bons amigos. Boa malta e malta boa. Já de manhãzinha, regressámos a casa para tomar o pequeno-almoço, coisa que não fiz porque me estiquei em cima da cama e só me levantei para almoçar. Epah, foi giro tanto que até gostei e era cachopa para repetir para o ano. Veremos.