terça-feira, março 14, 2006

Dedico a ti, porque as palavras não são razão aparente, mas a verdadeira aparência daquilo que expressam
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Descortinando o ambiente convidativo daquela tarde, ela resolveu sair. Era Verão, por isso, vestia um vestido confortável de cor garrida, que espelhava na perfeição o seu espírito. O fim da tarde estava próximo e como tal resolveu levar consigo um casaco de malha, para a eventualidade de uma súbita aragem a confrontar. Desceu o elevador tentando, em vão, organizar o reboliço de objectos que ia na sua mala, acabando por desistir de o fazer quando finalmente encontrou os óculos de sol. Coloco-os por fim no rosto, que subitamente corou num encontro de olhares onde os óculos foram a camuflagem perfeita para esconder a sua timidez.
Era um confronto quase mítico. Parecia que um desconhecido a tinha prontamente despido. Não que é lhe tivesse arrancado o que quer que fosse, ou talvez sim. Talvez lhe tivesse sugado naquele momento uma intimidade impensável. Sentiu necessidade de concertar a veste e de colocar o casaco, para repor o seu Eu. Agora o casaco era inabdicável. Levando as mãos ao cabelo, toco-lhe tentando perceber a razão pela qual estas suavam tanto. Respirou fundo, convencendo-se de que aquela inquietude era um perfeito disparate. Então, olhou em frente. Naquele entretanto, o sol aloirava-lhe ainda mais um rosto que divagava num instante furiosamente perdido. Sentiu-se uma adolescente esguia, depois de um arrepio paralisante. Ordenou inconscientemente para que os seus pés fossem mais velozes que o vento, que lhe fazia uma frente audaz. Mas eles teimavam, pareciam querer imortalizar alguma coisa, uma coisa paradoxalmente indelével e intemporal.
Prendendo o seu olhar num cão que, era tudo menos feroz, deu por si a equiparar-se com a trela daquele animal. Tal como aquele objecto havia algo em si que a fazia tomar uma direcção unilateral, como que previamente comandada por algo. No seu íntimo, achava-se uma tremenda idiota por acreditar em casualidades. Mas por casualidade ou não, aquele momento mudou algo em si. O quê, isso era indescritível.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bem menina, ao que tu descreves eu chamo de Amor... Um encontro de Almas que podem passar seculos sem se cruzarem, mas quando a vida os une mais uma vez e olham para os olhos um do outro, é como se o seu subconsciente reconhece-se um amor passado!!!!
É incrivel quando isto acontece!!!
Indescritivél!!!!