quarta-feira, dezembro 27, 2006

A ler

Na véspera de Natal, a caminho de Lisboa, acabei de ler as últimas páginas d'O Perfume.
Foi-me oferecido, generosamente, por uma amiga, no meu aniversário, mas só nestas férias de Natal pude dedicar-me com afinco à sua leitura.
Obra brutalíssima e um puro vício, devo dizer. A prova disso é que mal a comecei a ler, devorei-lhe as páginas em poucos dias.
Prendeu-me desde a primeira linha o interesse, pois o facto da personagem principal, Jean-Baptiste Grennoille, ter nascido em Paris no meio da imundice a transbordar de cheiro fedorento a peixe, pareceu-me promissor. A narrativa desenvolve-se à volta do percurso de vida deste homemzinho que desperta um misto de horror e afecto, e que ficou órfão após ter nascido, pois a sua mãe foi condenada à morte depois de ter sido acusada de actos hereges. A história passa-se no século XVIII, havendo uma aprimorada reconstituição da sociedade francesa da época. Grenouille, chega à adolescência mantido vivo pela caridade alheia de alguns lares, inclusive por freiras. Ser insignificante, ao ponto de dificilmente se notar a sua presença por ser incapaz de omitir aroma algum, é desprovido de qualquer sentimento de benevolência, e responde à indiferença do mundo com um perfeito estado de ataraxia. É vil, asqueroso e desumano. Um perfeito animal raro. Além disso, tem uma característica humanamente admirável: fareja todo e qualquer odor a léguas de distância. Conhece todos os milhares de cheiros mundanos, desde ao puro lixo até à mais sublime fragrância humana. Todos menos o seu, porque não o tem. Torna-se curtidor de peles, afim de aprender a fazer o mais fantástico perfume que a humanidade alguma vez conheceu e, assim, fabricar o seu próprio cheiro. Para tal, fica operário de conceituados perfumistas daquela época. Quando se torna, finalmente, mestre na arte da perfumaria_ com direito a diploma_ sai de Paris em busca de outros odores. No seu percurso até outras cidades, mantém-se por sete anos numa caverna onde subsiste alimentando-se dos mais hediondos seres vivos animais e vegetais e lambendo, com paciência característica, gotas de água horas a fio. Sobrevive milagrosamente por ter uma constituição biológica deveras resistente. Depois, parte em estado fisicamente monstruoso em busca de uma cidade. Facto que o leva a ser elemento comprovativo de uma idiota teoria sobre a origem do mundo_ teoria do fluido letal.
O seu nariz peculiar fá-lo definir as pessoas pelo cheiro, antes mesmo de as ver. Assim, torna-se assassino de vinte e cinco lindíssimas jovens cada uma delas com um odor e beleza invejáveis, perfume esse que Grennoille precisou extorquir para fabricar o seu próprio cheiro. Laure, é a última jovem a ser assinada, pois transpira de requinte. É a obra-prima da humanidade quer em termos de fisionomia quer de odor. Tinha cabelos ruivos que cobriam o rosto sublime e lhe realçavam os olhos verdes invulgares. Este monstrozinho humano, jamais tinha farejado alguém assim. O plano macabro que o leva a matar a última jovem, acaba por ter um fim diferente dos outros, acabando por o conduzir até aos calabouços para depois ser morto em hasta pública. Porém, no dia do veredicto, este unge-se do perfume que fabricou cuidadosamente durante dois anos e acontece um milagre: as dez mil pessoas que o esperavam ver morrer com dez pancadas certeiras, que lhe destruiriam a cada toque uma cartilagem, vêm-se rendidas ao encanto do perfume. Dá-se uma orgia generalizada e aquelas figuras entregam-se aos prazeres carnais em plena praça aos olhos de todos, sob as mais inimagináveis posições e recantos. Pela primeira esta criatura pardacenta provocou amor nas pessoas. O pai de Laure, desejou adoptá-lo também ele rendido àquele ser, tal é a perfeição do perfume.
Contudo, Grennouille já tinha conseguido o que queria: a vassalagem dos humanos devido ao perfume. Não seu, mas sabiamente criado. Assim, parte de volta a Paris. Chegado lá, junta-se a um grupo de pessoas que estava na rua junto de uma fogueira, e volta a untar-se de perfume. Grennoille acaba por morrer como um verdadeiro ídolo nas mãos daquelas gentes, que o desmembrou e desossou roendo cada osso como se este homem se tratasse de uma iguaria nunca antes saboreada, sendo a primeira vez que tinham feito algo por amor.
É esta a história deste assassino. De indiferente passou a diferente pela genial mistura dos odores mais aprazíveis que o mundo pôde conhecer. Um best-seller de leitura obrigatória, escrito por Patrick Susking e editado em 1985. "O Perfume" já vendeu em todo o mundo cerca de doze milhões de cópias. E, recentemente, foi adaptado ao cinema. A não perder!

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu sabia k te tinha dado uma coisa gira! Ja passou algum tmp dsd k li o livro, na altura adorei...Saber como uma simples coisa, como o cheiro pode influenciar a nossa relação com a sociedade rodeant. Mas a maior parte de uma relação humana de qualquer tipo é não verbal, por isso té tem a sua logica!