terça-feira, novembro 14, 2006

Muitos parabéns avó =)

Hoje a minha avó faz oitenta e cinco anos. Mais um dia de vida e na vida de alguém que, aparentemente, o mundo não nota. Contudo, noto eu. Faço-o com todo o gosto. Desde que me conheço como gente que a minha avó faz parte da minha vida, da pessoa que eu sou. Embora não tenha tido oportunidade de estudar, tem uma imaginação fantástica que não reconheço em mais ninguém. Quando eu era criança não dispensava, sob pretexto algum, as suas histórias. Noite após noite repetia: “´Vó contas uma estória à mim, contas?”
Eu já sabia que ela me iria contar porque jamais se recusou a tal. Estava sempre lá quando eu precisava que uma mão me embalasse. Era fantástico. Tudo o que era dito não vinha de nenhum livro, mas de uma sabedoria que me deixava consoladamente espantada. Eram coisas ditas sem pensar, que afluíam naquele momento, numa extrema sensibilidade. Lembro-me de uma vez ter feito birra com o meu irmão pois queria ser a primeira a adormecer naquelas palavras. Ela, levou-nos a ambos para a cama e sussurrou -nos: “Hoje ouvem os dois ao mesmo tempo. A avó vai contar uma história que vocês vão gostar muito.”. De facto, embora não me lembre exactamente daquelas palavras, recordo-me de ter adormecido perfeitamente bem com a vida.
Os anos foram passando e hoje a menina que acreditava no pinóquio, no lobo mau, na cinderela (...) cresceu. Hoje já não sou criança. Perdi encanto e ingenuidade afagáveis. Sou alguém que que deve àquela senhora, companheira desde as noites chuvosas e frias até às mais quentes, um muito obrigada. Obrigada por me teres ajudado a crescer, a perceber que apesar de o pinóquio fazer parte do mundo encantado, as pessoas podem torná-lo verdadeiro, ou não haverá sempre outras crianças a precisarem de acreditar nele para depois partirem à aventura do mundo fantastático do real, em que os sonhos podem ser feitos de carne e osso.
Isto é uma homenagem, daquelas que só fazem sentido porque acabei de lhe dar os comprimidos e ela dorme, ocasionalmente, ali atrás de mim. Sonhando, quiçá, com as histórias que tantas vezes preencheram os meus sonhos e que hoje são a base do meu mundo.
Graças ao fabuloso mundo infantil, aprendi a acreditar que o pinóquio é indiscutivelmente real num espaço fisicamente acessível ao meu tacto: a minha mente.

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